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quinta-feira, 7 de abril de 2011

Simplesmente Ser


Você já pensou em simplesmente ser?

Não, não estou me referindo a livros de auto-ajuda, nem a religiões. Não estou citando filosofia barata ou cara.
Simplesmente ser.
Somos muitos, obviamente. Somos tantos quantas pessoas conhecemos. E não somos nem um pouco como a ideia que as pessoas que conhecemos têm da gente. Mas afinal, quem somos? Somos, entre muitas coisas, o fruto das relações instrumentais que estabelecemos com todos os “outros”, a começar por nossas mães, necessariamente a primeira “outra” pessoa que conhecemos. (Conhecemos?…) Sim, somos o que os “outros” nos levam a ser, ao menos em parte. Será nas partes mais importantes? Somos em função do que queremos ter materialmente e do que queremos obter emocionalmente. Mas não somos nos “outros”.
Acima de tudo, somos ou o ideal que temos de nós mesmos, ou exatamente o oposto.
E assim, nós nos manipulamos, e nos deixamos manipular. Sempre sobra uma sensação, ora vestigial, ora pungente, de que não somos quem somos ou não somos quem deveríamos ser.
Será que somos aquelas coisas que queremos? Não.
Será que somos as pessoas que queremos, que desejamos para nós mesmos? Não.
Será finalmente, que somos as coisas que nós acreditamos? Ah, não mesmo, somos muito contraditórios, e só acreditamos no que nos é conveniente, na hora e na forma em que desejamos.
Temos toda uma importante carga genética que nos impõe inúmeros detalhes do que devemos ou podemos ser, e que limita com precisão tudo o que nos é impossível ser.
Temos uma insubstituível inserção social e cultural, que nos ensina, condiciona, impõe, obriga ou seduz a sermos quem somos.
Quem somos?
Somos as inúmeras reações químicas e moleculares colidindo em nossos cérebros? Somos nossas emoções ou nossas emoções são apenas fenômenos físico-químicos?
Cada pequena pergunta-chavão destas suscita uma verdadeira polêmica interminável, não?
Afinal, podemos acreditar no que quisermos.
Também somos luz, mas, mais profundo, místico e poético que isto, somos som. Vibração. Movimento. Até calor.
Não somos a soma de nossas partes. Se juntássemos todos os ingredientes na exata proporção, surgiria outra pessoa qualquer, mas não nós mesmos.
Somos o que amamos? Sabemos realmente diferenciar o que amamos do que desejamos?
Somos insubstituíveis? Mesmo?
Somos raros, pequenos, patéticos, mas infinitamente preciosos.
Para quem?
Para nós mesmos.
Porque a única coisa que vale a pena, na infinita solidão de nós, é termos uns aos outros.
Nunca somente no amor ideal de ágape, o amor caridoso e divino. Não apenas no amor devocional, racionalmente construído e arduamente estabelecido como um hábito.
Mas no amor de dizermos não a nós e sim aos outros.
Igualmente, no amor de dizermos não aos outros e sim a nós mesmos.
Somos o centro de nossos próprios universos.
Se não formos, o que será tudo o que não é nós?
Conjunto Intersecção e Conjunto União. É onde somos. Até quando excluídos, saímos de um conjunto para entrar em outro. Podemos nos sentir solitários. Mas somente o seremos por obstinada opção.
Somos mistérios.
Para acabar, será que somos os nossos sonhos?
- Definitivamente sim!
Eduardo Bernini, 23/12/04

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