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quarta-feira, 6 de abril de 2011

Poema de Adriana Sousa

Joaninha, morta em vida

Maria, mãe aos 17 anos,
mocinha da capital,
descolada e destemida,
humilhada por ser branca,
 renegada da família.
Negraiada do marido, rejeitou Maria,
mas ela deu a todos,
olhe a linda joaninha,
pequenina do amor, flor de lótus da família.
Salve Maria.

E por não querer nascer Joaninha já mentia,
e aos seis meses no útero de quem lhe devia amor,
prendeu a respiração, acalmou seu coração
E não se deixou ouvir.
Pobre Joaninha,
seu plano falhou e nesse mundo teve que vir.

ELE, bicho papão, que de anjo disfarçava,
tadinha dela, toda noite lhe tocava.
Tocava seu corpo de criança
como se fosse brincadeira ela entendia,
apesar de não se divertir com o muito que ele fazia,
bem no fundo seu pobre coração sabia
Isso não é coisa de criança,
mas com tanto carinho bicho papão falava,
que por não gostar do seu toque, Joaninha pobre se culpava.

Tantos dias, tantas noites, e ninguém pra lhe salvar,
seguia sua saga, bicho papão a lhe tocar.
As noites a assustavam, tinha medo e não dormia,
seu coração em desespero, sufocado se prendia.
Recorrer a quem, se toda sua confiança era Maria,
mas como entender que quem deve proteger simplesmente deixa sofrer.

“Ó mamãe de sua menina, por que não deixa ela entrar,
 ao teu lado na madrugada, bicho papão não vai tocar.”
 Mas mamãe dessa menina diz que não, não vai deixar,
... menina dorme em seu quarto, é frescura o seu chorar.

 Choro a dor de minha alma, sou menina violada.
 Monstro roubou minha infância e levou minha esperança.
Hoje, moça destruída, vivo a dor do casamento,
Mulher de homem mal escolhido,
Vivo uma vida sem sentido.


Esse corpo refletido,
Oh espelho inimigo,
Nem te vejo e nem te encontro,
Melhor seria ele morrido.
Joaninha hoje perdida,
Em uma alma reativa,
Vivo na dor do teu prazer,
Meu algoz era você.

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