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terça-feira, 2 de abril de 2013

Psicopata: mente cruel em rosto agradável / Reportagem Kariny Martins Edição Rodrigo Batista


Charmosos e simpáticos; mentirosos e manipuladores. Os psicopatas não se importam de passar por cima de tudo e de todos para alcançar seus objetivos. Egocêntricos e narcisistas, eles não sentem remorso, muito menos culpa. Se algo ou alguém ameaça seus planos, tornam-se agressivos. São mestres em inverter o jogo, colocando-se no papel de ví­timas. E estão sempre conscientes de todos os seus atos, pois, diferentemente do que ocorre em outras doenças mentais, os psicopatas não entram em delí­rio.
A psicopatia atinge cerca de 4% da população (3% de homens e 1% de mulheres), segundo a classificação americana de transtornos mentais. Sendo assim, um em cada 25 brasileiros enquadra-se nesse perfil. Mas isso não significa, é claro, que todos são assassinos em potencial.
Estudos coordenados por diversos pesquisadores, entre eles o psicólogo americano Randall T. Salekin, da Universidade do Alabama, indicam que, de fato, é comum que os psicopatas recorram à violência fí­sica e sexual. No entanto, a maioria dos psicopatas não é violenta. Alguns pesquisadores acreditam até que muitos sejam bem-sucedidos profissionalmente e ocupem posições de destaque na polí­tica, nos negócios ou nas artes.
O psicólogo Leonardo Fd Araujo, especialista em psicologia clí­nica pela Universidade Tuiuti do Paraná, concedeu entrevista ao Comunicação On-line e fala mais sobre a psicopatia e os psicopatas.
Comunicação On-line: O que caracteriza a psicopatia?
Araújo: O egocentrismo, a ausência de culpa e remorso, o excesso de razão e inexistência de emoção são as principais caracterí­sticas. Os psicopatas fingem e mentem muito bem, e forjam o afeto. Além disso, há os prejuí­zos sociais causados por esse tipo de transtorno mental, tais como agressões, estupros e assassinatos. É preciso ressaltar que o psicopata sente prazer em cometer o mal, em conseguir concretizar o que ele almeja. O falsário sente um extremo prazer ao conseguir enganar alguém, assim como o estuprador sente o mesmo ao cometer um estupro. Quando o mal está feito, ele não se culpa e ainda procura cometer outros crimes contra outras ví­timas.
Comunicação On-line: O psicopata é pintado geralmente como um assassino. Mas esse é o único perfil de um psicopata?
Araujo: O psicopata apresenta vários perfis. A grosso modo, existe o psicopata leve, moderado e grave. O psicopata leve é o conhecido “171″, aplica pequenos golpes e engana pessoas de bem. O moderado já se envolve de maneira mais contundente com as ví­timas dos golpes, que quase sempre envolvem muitas pessoas e grandes somas em dinheiro. Já o psicopata grave, esse sim é o mais conhecido pelo público leigo. É o indiví­duo que comete assassinatos a sangue frio, sejam em série ou não. Nos noticiários, infelizmente, volta e meia aparecem casos de assassinos e estupradores seriais, muitas vezes crimes com requintes de crueldade. O que os diferencia é a forma de agir. Uns sentem prazer no estupro, em torturar, outros em torturar e matar.
Comunicação On-line: O que pode levar um indiví­duo a cometer atitudes de psicopatas?
Araujo: A psicopatia tem causa multifatorial. Há estudos que demonstram que psicopatas que tiveram uma infância repleta de violência e com uma famí­lia desestruturada, podem chegar a cometer crimes graves contra a vida. Ou seja, podem se tornar verdadeiros predadores sociais, causando sérios prejuí­zos à sociedade. Há também fatores genéticos, fatores próprios de cada indiví­duo e fatores de ordem social que quando somados, podem levar à psicopatia.
Comunicação On-line: Existe uma maneira de perceber que uma pessoa é um psicopata?
Araujo: Isso é bem complicado. É sempre bom desconfiar de pessoas que se apresentam de forma sedutora, com idéias mirabolantes, sempre muito agradáveis. A mí­dia já retratou diversos casos de impostores. Eles se aproveitam de mulheres quase sempre muito bem colocadas profissionalmente, prometem mundos e fundos, enfim, ganham a confiança da ví­tima. Quando menos se espera, o impostor pede um dinheiro para completar a compra de um imóvel ou de um carro, e promete pagar assim que possí­vel, ou assim que fechar outro negócio. A partir daí­, já é tarde para reagir. Geralmente esses impostores somem no dia seguinte sem deixar nenhum vestí­gio. Coisa parecida acontece nos casos de estupradores e assassinos seriais. O psicopata vem com uma conversa agradável, dizendo que a moça é muito bonita, que quer tirar umas fotos dela para a agência de modelos. Pronto, a armadilha foi colocada, dificilmente a ví­tima terá escapatória. Esse tipo de abordagem foi usada, por exemplo, pelo Maní­aco do Parque em São Paulo.
Comunicação On-line: Uma pessoa que possui um perfil de psicopata nasce com essas caracterí­sticas, ou pode adquiri-las?
Araujo: O psicopata já o é desde o nascimento. Mais cedo ou mais tarde, o transtorno pode ser deflagrado, em maior ou menor grau. Estudos demonstram que filhos de psicopatas têm cinco vezes mais chances de desenvolver o mesmo transtorno. Sabemos que todo transtorno mental tem causas biológicas, psí­quicas e sociais. Uma criança filha de psicopata, que sofreu abuso e violência, tem ainda mais chances de desenvolver o transtorno. Um jovem pode desde cedo começar a demonstrar os primeiros sinais de que há algo errado. Por volta dos 15 anos pode apresentar os primeiros sinais de transtorno de conduta e se não tratado, pode evoluir para a psicopatia.
Comunicação On-line: Como é o relacionamento social do psicopata? Ele consegue ter uma vida social, com amigos, trabalho e estrutura como outra pessoa qualquer?
Araujo: O relacionamento social de um psicopata é movido por interesses. O problema é que na maioria das vezes é uma via de mão única: as vantagens são almejadas apenas para benefí­cio próprio. Nem que para isso seja necessário passar por cima de quem estiver em seu caminho, causando sérios problemas para quem o cerca. É importante ressaltar que os prejuízos monetários, morais, fí­sicos e psí­quicos que as ví­timas do psicopata sofrem são incalculáveis. No trabalho, o processo é o mesmo. A vida laboral do psicopata é repleta de desmandos, crises com superiores e intrigas. Para os que convivem com um psicopata, principalmente familiares, a relação é sempre difí­cil e conturbada. Os familiares percebem que algo está errado, mas para o psicopata está tudo na mais perfeita ordem.
Comunicação On-line: Aos olhos da maioria da população, as atitudes dessas pessoas são reprováveis. O psicopata tem consciência de que aquilo que ele faz é errado?
Araujo: Esse é um ponto importante. O psicopata sabe exatamente o que faz inclusive que tais atos são ilegais ou imorais. Ele tem ciência de que pode ser pego pela polí­cia e levado à justiça. Sendo assim, o psicopata calcula meticulosamente os seus passos. Um estelionatário ardiloso, por exemplo, planeja cada passo, cada detalhe para que seu plano tenha êxito e para que nada seja descoberto antes do tempo. Tudo o que o psicopata faz é normal e natural, para ele mesmo, é claro. Por não sofrer de remorso ou culpa, comete os piores crimes e atrocidades sem pestanejar.
Comunicação On-line: Assim como outros distúrbios da mente, a psicopatia tem algum tratamento?
Araujo: Para praticamente todos os casos, o tratamento tem pouco ou nenhum efeito. É preciso entender que a maneira de ser do psicopata é algo ruim para nós, mas para eles é algo perfeitamente normal e aceitável. Ainda não soube de nenhum caso de um psicopata estelionatário que passe por uma crise existencial e procure um tratamento. No psicopata grave então, nem se fala. As tentativas de intervenção, para estes casos graves, se dão no meio carcerário. Infelizmente, tais intervenções, são complicadas e conturbadas. Adoraria dizer o contrario, mas ainda não há cura para a psicopatia, e o tratamento se dá visando a redução de danos. Ou seja, é uma tentativa de tratamento que tem como objetivo diminuir os efeitos e os prejuízos sociais causados pelo psicopata.

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