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segunda-feira, 1 de julho de 2013

SÍNDROME DO PÂNICO E PSICOSSOMÁTICA / Dra Maria Cristina Mariante Guarnieri, Professora do IJEP

A síndrome - ou transtorno - de pânico se caracteriza por ataques de pânico esporádicos, intensos e, por vezes, recorrentes, que acometem, geralmente, jovens adultos entre 24 e 30 anos, embora em algumas pesquisas encontramos uma ampliação dessa faixa etária para 21 e 40 anos. Alguns pesquisadores afirmam que há uma incidência maiores em mulheres, na proporção de dois para um, chegando em algumas pesquisas até em oito para um. Um ataque de pânico isolado pode não se constituir como uma doença, ou pode mesmo ser sintoma de outros transtornos mentais. A síndrome de pânico se caracteriza, principalmente, por crises súbitas, sem aparente fator desencadeante; não supõe de forma alguma um estado mórbido para se instalar. As crises deixam o indivíduo incapacitado, levando-o, inclusive, a temer situações que ele associa como ligado ao ataque. Assim, é possível que ele desenvolva outros medos e comece a evitar determinadas situações como ocorre, frequentemente, em uma atitude fóbica.
Como sintomas, encontramos sentimentos de perigo eminente, sudorese, palpitação, necessidade de fugir, tremores, dificuldades em respirar, com dor ou desconforto no peito, sensação que irá engasgar, dores abdominais, náuseas e tonturas, despersonalização, sensação de que as coisas não são reais, medo de perder o controle, de ficar louco ou de morrer.  
Os sintomas sugerem que o indivíduo está sob ameaça de algo terrível, do qual precisa fugir, porém, não há perigo concreto aparente. Como em um estado de alerta, há liberação de adrenalina que provoca alterações fisiológicas no intuito de preparar o indivíduo para o enfrentamento do perigo. Observamos, então, um aumento da frequência cardíaca e respiratória (hiperventilação), para melhorar a oxigenação muscular e isso se torna o principal motivo do surgimento dos sintomas da crise. Inclusive, é possível notar, que o indivíduo que sofre de pânico, passa a considerar todos os movimentos internos de seu organismo, como uma tentativa desesperada de controle para evitar novos ataques. As semelhanças de alguns sintomas com possíveis problemas cardíacos, de tiroide ou respiração, são um dos motivos que levam muitos dos pacientes ao pronto socorro.
Durante a hiperventilação, o organismo excreta uma quantidade maior de gás carbônico, que tem como função controlar o equilíbrio ácido-básico do sangue. Se há um diminuição do gás carbônico, teremos um aumento do pH sanguíneo (alcalose metabólica) e, consequentemente, uma maior afinidade da albumina plasmática pelo cálcio circulante, o que clinicamente é chamado de hipocalcemia relativa - redução na fração livre do cálcio. Esse desequilíbrio também é notado naqueles que sofrem de stress. Os sintomas decorrentes desse processo são, no SNC, a vasoconstrição arterial que aparece sob a forma de vertigens, escurecimento da visão e sensação de desmaio. No SNP, temos a dificuldade na transmissão dos estímulos pelos nervos sensitivos, o que leva as parestesias - formigamentos - que aqui possuem uma característica específica de serem da periferia para o centro do corpo. Essa hipocalcemia, na musculatura esquelética, produz um aumento de excitabilidade muscular. Surgem, então, sintomas como tremores de extremidades, seguidos de espasmos musculares que podem chegar até a contração muscular persistente - tetania. Portanto, como exemplo, observa-se sintomas de tremores de pálpebras, braços, até a dificuldade de abrir os olhos, dor torácica alta, sensação de aperto na garganta, câimbras, além do fato, muito relatado, de frequentes bocejos. Devido a hiperventilação, temos também a ocorrência de boca seca e de falta de ar, o que faz com que muitas pessoas andem sempre com uma garrafa de água e se queixem de dificuldades ao respirar.
Em uma crise de pânico os neurotransmissores - serotonina e noradrelina - encontram-se em desequilíbrio, levando o cérebro a transmitir informações e comandos incorretos que acabam alertando e preparando o organismo para uma ameaça ou perigo que na realidade não existem.
Esse nada, que persegue os sintomas do transtorno de pânico, coloca o indivíduo entre a fantasia e a realidade. De uma lado, ele experimenta o terror de forma concreta, a certeza sentida no corpo de um colapso geral e, por outro lado, sua busca de um sentido para tal pane lhe apresenta a ele próprio como criador de algo que parece não ter sentido algum, nem psiquicamente, nem fisiologicamente.
 Diante do terror experimentado pelo indivíduo e o pouco resultado conseguido por ele em relação ao seu mal, a terapia e torna-se uma busca feita pela necessidade, pois algo em sua estrutura simbólica parece não dar mais sentido e coerência ao seu existir no mundo. A experiência brutal, incompreensiva, repetitiva dos ataques de pânico não parece remeter a nada; eles apontam apenas perdas e dificilmente possuem uma causa clara, embora vários fatos podem ser relacionadas ao seu surgimento. Essa diversidade de causas, incluindo a leitura da síndrome como citado anteriormente - apenas como um desequilíbrio de neurotransmissores - acabam dificultando o tratamento de tal enfermidade e, não raro, o tratamento medicamentoso não oferece maiores resultados do que o alívio da angústia e o apoio em algo que lhe dá algum tipo de certeza diante de um fenômeno que tem por característica a incerteza, o indizível, o não compreensível.

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