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sábado, 31 de agosto de 2013

A arte de ser feliz / Cecília Meireles

Houve um tempo em que minha janela se abria
sobre uma cidade que parecia ser feita de giz.
Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada,
e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde,
e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas.
Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse.
E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor.
Outras vezes encontro nuvens espessas.
Avisto crianças que vão para a escola.
Pardais que pulam pelo muro.
Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.
Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.
Ás vezes, um galo canta.
Às vezes, um avião passa.
Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.
E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,
que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem,
outros que só existem diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.


quarta-feira, 28 de agosto de 2013

"QUANDO MÉDICOS OPTAM POR COMBATER MÉDICOS E NÃO DOENÇAS, ALGO DE MUITO GRAVE SE REVELA NA SAÚDE"

A repulsa dos médicos brasileiros a vinda de cubanos para atuar em cidades do interior é uma espécie de reserva de não-mercado. É mais ou menos como a TV quando compra a exclusividade de um jogo e não transmite. Nem permite que outros canais transmitam. Os médicos brasileiros não querem trabalhar nas localidades mais distantes ou com menos estrutura. Mas querem impedir que outros o façam em seu lugar.
O grave do problema é que isso não se trata de um amistoso da seleção ou um jogo da Libertadores. É a saúde das populações mais pobres que está em permanente risco. E a dignidade da pessoa humana, fundamento da República, não se submete a esse tipo de abuso de poder. O direito à vida ou a saúde não pode ser sufocado pela onda de preconceitos, nem ficar refém de corporativismos. O estado democrático de direito é antropocêntrico e não admite recompensa pelo egoísmo. Para criticar a vinda de cubanos, de tudo um pouco já se ouviu. Que os profissionais são de baixa qualidade, que parecem domésticas, que o espanhol caribenho é difícil de entender. Os médicos cubanos ora são hostilizados por serem agentes disfarçados da guerrilha comunista ora por serem escravizados pela ditadura. Os argumentos não se sustentam em pé, porque na verdade só existem na aparência. Escondem a volúpia pela exclusividade, a proteção ao direito de não atender. Do lado da imprensa, uma indisfarçável torcida pelo fracasso, com receio, que melhor caberia aos partidos políticos, de um possível uso eleitoral de bons resultados.
Escassez de Hipócrates nesse excesso de hipocrisia. Se os brasileiros estivessem dispostos a trabalhar nas localidades em que faltam médicos, coincidentemente as de menor IDH do país, nenhum estrangeiro teria sido convocado a atuar nessa medicina sem fronteiras. Mas os representantes dos médicos brasileiros optaram por serem eles mesmos as fronteiras. Parte considerável dos cubanos tem perfil internacionalista e já exerceu a profissão em países estrangeiros e em situações de pouca ou nenhuma estrutura, como na África. É provável até que tenham mais experiência em tratar o pobre do que a maioria de seus críticos locais. Na imprensa, os que mais se rebelam contra o sistema adotado na parceria são justamente aqueles que vêm sustentando, há tempos, os benefícios da terceirização. Com a agravante de que neste caso, não existe o empregador inescrupuloso que opta por ela para fugir a altos salários ou obrigações trabalhistas. Afinal, a ganância capitalista sempre comoveu pouco na mídia. É o caso de refletir seriamente se nós estamos em condições de regular a forma como Cuba remunera os médicos que fizerem parte do acordo, dado que as premissas econômicas dos dois países são bem distintas. Quem sabe não chegamos a conclusão que devemos pagar mais a eles, ao invés de repeli-los. De qualquer forma, a acusação de trabalho escravo é simplesmente grotesca. Não há serviço forçado e tampouco maus tratos; condições degradantes ou servidão por dívidas. Escravo não é o médico que sai voluntariamente de suas fronteiras para trabalhar com pobres por ideais. Escravo é o povo a quem se promete o direito a saúde e se sonega médicos para concretizá-lo. Nada mais revelador do que doutores cearenses se reunindo para xingar os cubanos recém-chegados de escravos. A desfaçatez demonstra que na crítica às condições de trabalho não reside nenhuma solidariedade, apenas o pretexto de combater aquilo que incomoda a si mesmo.
Curioso é que a imprensa, sempre tão mordaz contra várias formas de corporativismo, tem sido condescendente demais com as manifestações dos conselhos de medicina. A mais gritante delas beirou o absurdo e o ilícito: a ameaça nada velada de que médicos brasileiros não prestariam auxílio se um cubano tivesse problemas com um paciente. O ressentimento fala por si só.
Quando médicos optam por combater médicos e não doenças, algo de muito grave se revela na saúde.

Juiz de Direito Marcelo Semer

Mell Glitter em "Fênix"

EM JULHO DE 2011,POSTEI  UM TEXTO DA AMIGA MELL QUE FEZ UM GRANDE SUCESSO. EIS UM POEMA QUE IDENTIFIQUEI-ME DEMAIS...BYA.

Vida, por que me roubaste a coragem?
Por que me abandonaste aqui, tão frágil, tão amedrontada?
Por que fugiu de mim, se te preciso tanto?
Por que levaste de minha história, seu atrevimento, seu encanto?
Não sabes, Vida, que por ti morro?
o ouves da minha solidão, o triste grito de socorro?
Não... não me deixe aqui neste pedaço da vida onde tudo é breu, onde meu sorriso se escondeu...
Me leva pra parte da história onde me reencontro, onde a felicidade me perdeu... Me leva pra resgatar de uma vez por todas o que em mim ...morreu!

Mell Glitter em "Fênix")


Foto: Vida, por que me roubaste a coragem?
Por que me abandonaste aqui, tão frágil, tão amedrontada?
Por que fugiu de mim, se te preciso tanto?
Por que levaste de minha história, seu atrevimento, seu encanto?
Não sabes, Vida, que por ti morro?
Não ouves da minha solidão, o triste grito de socorro?
Não... não me deixe aqui neste pedaço da vida onde tudo é breu, onde meu sorriso se escondeu...
Me leva pra parte da história onde me reencontro, onde a felicidade me perdeu... Me leva pra resgatar de uma vez por todas o que em mim ...morreu!

( Mell Glitter em "Fênix")

terça-feira, 27 de agosto de 2013

DIGA NÃO AO ABUSO SEXUAL

Um abusador, às vezes, tenta disfarçar o abuso que pratica dizendo apenas ter feito um carinho na vítima, "com todo respeito", sem nenhuma conotação sexual. São exemplos:

Carinhos com conotação sexual, mesmo sem o uso de força, a vítima tentando "escapulir", "fugir", mas o adulto finge não entender, continuando a acariciar, a abusar;

Ou, mesmo sabendo que a vítima não se sente bem, que não quer o carinho, o abusador a "acaricia" faltando-lhe com o respeito e pela falta de experiência, falta de iniciativa, de vivência, a vítima termina "recebendo", deixando o carinho acontecer, constrangida, sem conseguir afastar o abusador.

Nestes casos, há até avôs abusadores. Em alguns casos as vítimas ainda tentam se afastar, mas têm receio, a figura de autoridade do avô faz com que se curvem às vontades do abusador, como "autoridade familiar" que é.

Muitas vezes, quando o abuso é praticado sem violência física, a vítima "aprende a gostar" das sensações causadas, pois muitas vezes suas zonas erógenas são estimuladas e, consequentemente, o "prazer" é sentido - ISTO NÃO DESCARACTERIZA O ABUSO SEXUAL, uma vez que o desenvolvimento e maturação sexuais da criança foram precocemente violentados, sem o seu discernimento.

Já vimos que às vezes existe o abuso sexual sem que a vítima tenha consciência de que está sendo abusada, por não haver o emprego de violência física.

Quando o abuso é físico, ficam marcas mais fáceis de serem descobertas. Um exame, no Instituto Médico Legal facilmente confirma.

Abaixo, damos alguns exemplos de situações de abuso, encontrados em registros de órgãos que tratam de violência contra crianças e adolescentes:

1. Maria, 16 anos, tem um filho do padrasto abusador. Diz sobre a genitora: "não quer acreditar" ... " ela é evangélica, e às vezes, dizia que tudo ocorria porque eu queria";

2. MARIANA, 5 anos, foi passar a tarde com o padrinho por insistência dele. O padrinho a colocou no sofá, tirou sua calcinha, ficou passando a mão no órgão genital da criança, e depois o pênis pelo mesmo local.

3. SANDRA, 12 anos, estuprada há dois anos pelo pai, sob ameaça de morte, foi usada pelo pai sempre sob ameaças de morte (mataria a vítima, genitora e demais familiares), com uma faca em punho. A mãe é deficiente mental, e flagrou o abuso. Segundo a adolescente, o pai nega tudo.

4. ARLETE, 15 anos, vítima de estupro por parte do próprio pai alcoolizado no momento do ato.

5. FRANCISCA e PATRÍCIA, 9 e 11 anos. Vítimas do "TIO" que alisava as coxas, bumbum, no "pipiu", passava a língua dentro do "pipiu", lambia as pernas, coxas, bumbum, que ele passou mais ou menos 2 anos fazendo isto, contava para a mãe, e ela para o pai . Até que tia pegou ele fazendo isto, falou para a avó, que brigou com ele, mas mesmo assim ele não deixou de fazer"... " que tio ... lambia o bumbum e a vagina dela, botava o pênis para fora e obrigava ela pegar, e esfregava o pênis dele nela, até na vagina, e doía, pois tentava botar dentro, e doía..."

6. ANA, 7 anos: " ... Quando minha mãe estava no trabalho, ele ia me buscar na escola, me mandava tomar banho, ele esperava eu sair e me levava para a cama, botava o negócio dele dentro de mim. doía muito, e eu não podia chorar." (esta criança foi submetida a uma cirurgia, em conseqüência do estupro).

Você não está só.
NÃO TENHA MEDO
É hora de falar, de dar um basta.

DISQUE 100.


Foto: Um abusador, às vezes, tenta disfarçar o abuso que pratica dizendo apenas ter feito um carinho na vítima, "com todo respeito", sem nenhuma conotação sexual. São exemplos:

 Carinhos com conotação sexual, mesmo sem o uso de força, a vítima tentando "escapulir", "fugir", mas o adulto finge não entender, continuando a acariciar, a abusar;

Ou, mesmo sabendo que a vítima não se sente bem, que não quer o carinho, o abusador a "acaricia" faltando-lhe com o respeito e pela falta de experiência, falta de iniciativa, de vivência, a vítima termina "recebendo", deixando o carinho acontecer, constrangida, sem conseguir afastar o abusador.

Nestes casos, há até avôs abusadores. Em alguns casos as vítimas ainda tentam se afastar, mas têm receio, a figura de autoridade do avô faz com que se curvem às vontades do abusador, como "autoridade familiar" que é.

Muitas vezes, quando o abuso é praticado sem violência física, a vítima "aprende a gostar" das sensações causadas, pois muitas vezes suas zonas erógenas são estimuladas e, consequentemente, o "prazer" é sentido - ISTO NÃO DESCARACTERIZA O ABUSO SEXUAL, uma vez que o desenvolvimento e maturação sexuais da criança foram precocemente violentados, sem o seu discernimento.

Já vimos que às vezes existe o abuso sexual sem que a vítima tenha consciência de que está sendo abusada, por não haver o emprego de violência física.

Quando o abuso é físico, ficam marcas mais fáceis de serem descobertas. Um exame, no Instituto Médico Legal facilmente confirma.

Abaixo, damos alguns exemplos de situações de abuso, encontrados em registros de órgãos que tratam de violência contra crianças e adolescentes:

1. Maria, 16 anos, tem um filho do padrasto abusador. Diz sobre a genitora: "não quer acreditar" ... " ela é evangélica, e às vezes, dizia que tudo ocorria porque eu queria";

2. MARIANA, 5 anos, foi passar a tarde com o padrinho por insistência dele. O padrinho a colocou no sofá, tirou sua calcinha, ficou passando a mão no órgão genital da criança, e depois o pênis pelo mesmo local.

3. SANDRA, 12 anos, estuprada há dois anos pelo pai, sob ameaça de morte, foi usada pelo pai sempre sob ameaças de morte (mataria a vítima, genitora e demais familiares), com uma faca em punho. A mãe é deficiente mental, e flagrou o abuso. Segundo a adolescente, o pai nega tudo.

4. ARLETE, 15 anos, vítima de estupro por parte do próprio pai alcoolizado no momento do ato.

5. FRANCISCA e PATRÍCIA, 9 e 11 anos. Vítimas do "TIO" que alisava as coxas, bumbum, no "pipiu", passava a língua dentro do "pipiu", lambia as pernas, coxas, bumbum, que ele passou mais ou menos 2 anos fazendo isto, contava para a mãe, e ela para o pai . Até que tia pegou ele fazendo isto, falou para a avó, que brigou com ele, mas mesmo assim ele não deixou de fazer"... " que tio ... lambia o bumbum e a vagina dela, botava o pênis para fora e obrigava ela pegar, e esfregava o pênis dele nela, até na vagina, e doía, pois tentava botar dentro, e doía..."

6. ANA, 7 anos: " ... Quando minha mãe estava no trabalho, ele ia me buscar na escola, me mandava tomar banho, ele esperava eu sair e me levava para a cama, botava o negócio dele dentro de mim. doía muito, e eu não podia chorar." (esta criança foi submetida a uma cirurgia, em conseqüência do estupro).

Você não está só.
NÃO TENHA MEDO
É hora de falar, de dar um basta.

DISQUE 100.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

CARTA QUE O APRESENTADOR FLAVIO CAVALCANTI (1923-1986) ESCREVEU A SEU NETO

Meu neto: 

Pelo que você já me disse com o seu sotaque de anjo, percebo que você meconsidera uma criança grandona e desajeitada, e me acha, mesmo assim, seu melhor companheiro de brinquedos.

Pena que tenhamos tão pouco tempo para brincar, tão pouco porque só sei brincar de passado, e você só sabe brincar de futuro. E ainda estarei brincando de recordação quando você começar a brincar de esperança.

Mas antes que termine o nosso recreio juntos, antes que eu me torne apenas um retrato na parede, uma referência do meu genro, ou quem sabe até uma lágrima de minha filha, quero lhe dizer meu neto, que vale a pena.

Vale a pena crescer e estudar. Vale a pena conhecer pessoas, ter namoradas, sofrer ingratidões, chorar algumas decepções. E, a despeito de tudo isso, ir renovando todos os dias a sua fé e a bondade essencial da criatura humana, e o seu deslumbramento diante da vida.

Vale a pena verificar que não há trabalho que não traga sua recompensa; que não há livro que não traga ensinamentos; que os amigos têm mais para dar que os inimigos para tirar; que se formos bons observadores, aprenderemos tanto com a obra do sábio quanto com a vida do ignorante.

Vale a pena casar e ter filhos. Filhos, que nos escravizaram com o seu amor.

Vale a pena viver nesses assombrosos tempos modernos, em que milagres acontecem ao virar de um botão; em que se pode telefonar da Terra para a Lua; lançar sondas espaciais, máquinas pensantes à fronteira de outros mundos, e descobrir na humildade que toda essa maravilha tecnológica não consegue, entretanto, atrasar ou adiantar um segundo sequer a chegada da primavera.

Vale a pena, meu neto, mesmo quando você descobrir que tudo isso que estou tentando ensinar é de pouca valia, porque a teoria não substitui a prática, e cada um tem que aprender por si mesmo que o fogo queima, que o vinagre amarga, que o espinho fere, e que o pessimismo não resolve rigorosamente nada.

Vale a pena, até mesmo, envelhecer como eu e ter um neto como você, que me devolveu a infância.

Vale a pena, ainda que eu parta cedo e a sua lembrança de mim se torne vaga. Mas, quando os outros disserem coisas boas de seus avós, quero que você diga de mim, simplesmente isso:

“Meu avô foi aquele que me disse que valia a pena. E não é que ele tinha razão?!”

terça-feira, 20 de agosto de 2013

DICA CULTURAL

UMA BOA OPÇÃO CULTURAL, INDICADA POR MIM E PELO AMIGO E ATOR FLÁVIO GUARNIERI.

EU TE AMO, MEU BRASIL
Comédia musical escrita e dirigida por Atilio Bari
Duração: 65 minutos
Classificação indicativa: livre
A peça acompanha, em tom de memória, o cotidiano de Tuco, um garoto de uma família comum de classe média, seus colegas de escola, namorada e professores, tendo como ambiente narrativo a história recente do Brasil e as transformações que aconteceram no país a partir da década de 1960. A narrativa tem inicio com a inauguração de Brasília e passa por Jânio Quadros, João Goulart, o golpe militar de 1964, o período da ditadura, os exilados, a censura, a anistia, as diretas-já, Tancredo, Collor, etc. Mais do que um simples pano de fundo, esses fatos históricos constituem, juntamente com o garoto, as personagens centrais do espetáculo, desencadeiam as ações e provocam as mudanças que atingem a família e os amigos de Tuco.
Teatro Sérgio Cardoso – Rua Rui Barbosa, 153 – Bela Vista – Tel.: 3288-0136 Sábados às 18h e domingos às 17h – Duração: 65 minutos. Temporada: de 24/08 a 06/10/2013 Indicado a partir dos 10 anos
Texto e direção: Atilio Bari
Coreografias: Lucilene Pacheco
Elenco:
Flávio Guarnieri Lucio Dicetaro Maira Cardoso Sabrina Lavelle Wagner Vaz
Stand-in: César Baccan
Cenário e figurinos: o grupo
Iluminação: Rodrigo Bari
Programação Visual: Sandra Vastano
Administração: Julia Bari
Produção: Grupo Theatralha & Cia.
Apoios Institucionais:
Programa de Ação Cultural Governo do Estado de São Paulo Secretaria da Cultura
Apetesp
Culturação
Tv Aberta

Foto: Estreia de EU TE AMO MEU BRASIL no dia 24 de Agosto as 18hs no teatro Sérgio Cardoso - Sala Paschoal Carlos Magno! Esperamos vcs lá!

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

NOVO DEPOIMENTO...

NÃO DEIXEM DE LER O DESABAFO DA "SEM NOME". CONHECER SUA DOR E SUAS TENTATIVAS DE SUPERAÇÃO. (BLOG DE DEPOIMENTOS)...BYA

LENTAS HORAS... / RENATA BEIRO

Lentas horas
Silenciam
Calam
Desenham
Desdém
Em palavras
Que nem sei...
Viagem
Dos sentidos
Insuflam
Inflamam
Camuflam
Desejos
Invasão...
Profana
Intimidade
Intensidade...
Entorpece!
Alma
Inebria
Mente
Fria
Vazia...
Espera
Sem gozo...
Amor
Indizível...
Arte
Toque
Sensível
Visível
Faz-se...
Em chegada
Ou despedida
Aparece
Ou se oculta
Qual criança
Perdida...
Calar
E falar
Da loucura
Impura...
Almeja
Aconchego
O chego
A tempo
Intento
Das horas...
Chamego
Em colo
Com dolo...


AMOR E SEU TEMPO / Carlos Drummond de Andrade

Amor é privilégio de maduros
estendidos na mais estreita cama,
que se torna a mais larga e mais relvosa,
roçando, em cada poro, o céu do corpo.

É isto, amor: o ganho não previsto,
o prêmio subterrâneo e coruscante,
leitura de relâmpago cifrado
que, decifrado, nada mais existe

valendo a pena e o preço terrestre,
salvo o minuto de ouro do relógio
minúsculo, vibrando no crepúsculo.

Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda a ciência
herdada, ouvida. Amor começa tarde.


Foto

domingo, 18 de agosto de 2013

O Sapo de Einstein / Elizabeth Metynoski



Há uma figura de retórica, chamada "O sapo de Einstein". O gênio dizia: "Se você colocar um sapo em uma panela com água e for aumentando a temperatura lentamente, o sapo não percebe, vai se habituando e morre cozido. Mas se você colocar o sapo em uma panela com água quente ele imediatamente percebe o choque e pula para fora".

O Brasil está passando pelo processo de fervura do sapo. Se as coisas acontecem longe de você. Você vê apenas as notícias nos jornais, legal, não é comigo, você pensa. Eu mesma pensava assim antes da morte do meu filho, achava que a violência jamais iria tocar meus entes queridos. Mas quando você cai na panela quente você pula imediatamente. Eu cai na panela quente. Admito que estava num sono letárgico, pois a panela esquentava e até era confortável, mas uma vez que você cai na panela quente, ai meus amigos você começa a ficar esperto e ver o que se passa realmente ao seu redor! O caso dos menores que estão ai, sendo usados pelos ladrões e traficantes, pois o menor quando é pego, dificilmente vai preso. Os menores se sentem poderosos, acima do bem e do mal, dai a famosa frase deles: - Não dá nada! E não dá mesmo! São os 007 brasileiros (Matam e ficam impunes)! Uma pesquisa sobre criminalidade, enviada por um amigo nosso da luta contra a impunidade, aponta que o maior índice de roubos e assaltos é praticado por menores ou tem menores envolvidos. É assustador...Eu pergunto se um menor com 16 anos pode votar, porque não pode responder criminalmente por seus atos??? Esta na hora de mudar isso! Vamos acordar! E ver que o que acontece aos "outros" pode acontecer com você ou com sua família! A manchete do dia dos jornais pode ser sobre você ou sobre sua família!

É chocante eu sei, mas o menor que matou meu filho tinha 14 anos! Meu filho teve o 2º, 3º e 4º arcos costais esquerdos quebrados (são os três arcos por cima do pulmão), o pulmão esquerdo estourado, um hemotórax (é um derrame e presença de sangue na cavidade toraxica pleural geralmente provocadas por feridas penetrantes) de 500 mml no lado esquerdo e um igual de 150 mml no lado direito do tórax, uma ferida causada por um objeto perfuro cortante na parte posterior (costas) tórax esquerdo e mais um tiro de espingarda 16 mm (o menor tinha perfeita habilidade com esta arma - segundo laudo da DA) dado a queima roupa no pescoço (o qual deixou esfumaçamento e tatuagem de pólvora na região do queixo e pescoço, o que prova que o tiro foi dado a queima roupa, o mesmo deixou a traquéia, vasos cervicais destruídos) , que praticamente decapitou meu filho. (Eu doei seus órgãos, mas não puderam ser utilizados, pois meu filho não tinha sangue suficiente no corpo para os exames necessários!) E ainda foram encontrados objetos dentro do tórax (pedaços de metal, papelão e outros não identificados) e 10 projéteis da arma foram retirados de seu corpo. No atestado de óbito consta que meu filho morreu devido a ferida perfuro cortante, mais um tiro no pescoço o que causou hemorragia aguda. Ou seja, traduzindo, meu filho apanhou, foi esfaqueado pelas costas e ainda levou um tiro. Depois de ter feito isso o menor assassino ligou calmamente para os bombeiros e contou o que tinha feito. Eu ouvi a gravação e acredite ele estava na boa! Contou ao bombeiro como se estivesse contando um fato corriqueiro! Obs.: isso consta em laudo da autópsia e atestado de óbito a disposição de quem quiser ler.

Detalhe: ele era acompanhado pelo conselho tutelar desde os 6 anos, em sua pasta (enorme!) haviam laudos de psiquiatra atestando que ele era um sociopata! E havia sido retirado de várias escolas por fazer torturas com crianças menores e outros comportamentos inadequados! O Conselho colocou este doido na escola com crianças normais! Meu filho tinha 10 anos! Cade a responsabilidade deste dito conselho, que segundo me consta deveria proteger o menor, porque não fez isso com meu filho e com as outras crianças da sua escola!

Este menor, desenhava pelos banheiros um fluxograma de como iria matar "seus desafetos" ou seja os colegas de escola, coordenadora e diretora, nestes desenhos ele mostrava como iria matar, esquartejar e consumir com os corpos (usando cordas, pregos para prender as vitimas, serra manual e elétrica para cortar e uma espingarda). Um mês antes de matar meu filho, ele desenhou como iria matar, cortar e etc ...a diretora e a coordenadora da escola, por causa deste desenho onde constava uma espingarda, foram chamados o Conselho Tutelar e o pai deste menor para uma reunião e pedido que o mesmo fosse retirado da escola, por representar um risco aos demais alunos e na ocasião o Conselho Tutelar se recusou a tira-lo e o pai sendo alertado da espingarda, afirmou que tinha a mesma, mas que iria se desfazer dela. O que não fez, a espingarda estava em uma estante a 1,20 cm do chão, desmontada em três partes.

Vocês devem estar se perguntado o que foi que aconteceu com o menor que fez tudo isso!? Eu respondo: ficou três dias preso na DA, solto e colocado em outra escola com crianças inocentes, após um ano de luta da minha parte, sem ter direito a nada - pois você, mesmo sendo mãe ou pai de vitima não tem acesso ao processo do menor que matou seu filho (corre em segredo de justiça), fui ameaçada de processo por avisar a outra escola do perigo que este menor representava, o juiz me ameaçou de prisão por desacato por eu cobrar uma sentença, nesta altura eu fiz uma queixa na ouvidoria geral do estado contra o juiz e o promotor e ele foi "condenado" apenas a uma medida socio-educativa de se tratar com um psicologo em liberdade pelo trauma de ter matado meu filho! Quando ele fez 18 anos ganhou ficha limpinha! Pois tudo que um adolescente faz, seja lá o que for some de sua ficha ao ficar maior! Um verdadeiro anjo! Hoje este assassino, que ficou impune anda sossegado em liberdade com ficha limpa e inclusive fazendo concursos para entrar na policia, cope e outros afins.

O pai do menor, após outra luta titânica minha pegou apenas serviços comunitários. Hoje tem perfil aqui no face, posando de "gente boa".

Os únicos sentenciados foram meu filho que pegou perpétua no cemitério e eu e minha família condenados ao sofrimento da eterna saudade.

Se eu conto isso é para que as pessoas acordem, antes que seja tarde! Fiquem de olho em quem o Conselho Tutelar coloca na escola de seus filhos! Eu não quero que outra mãe passe pelo que eu passei e é de boca fechada que eu vou conseguir isso!

Vamos lutar para que a Maioridade Penal seja abaixada já! Eu penso que a partir dos 12 anos completos o menor deve pagar pela gravidade dos crimes praticados e não por uma idade especifica e que se ele voltar ao crime deve perder o direito da ficha limpa aos 18 anos. E ainda que deve existir um dispositivo que previna que os menores que além de praticar um crime, tem algum grau de psicopatia fiquem soltos.

E já digo, aos demagogos e defensores dos marginais, que para antes de "me malhar", vão sentir "na pele" o que eu senti e sinto.

Lembrem da figura do Sapo de Einstein!

Elizabeth Metynoski - mãe do Giorgio Renan

Site: www.giorgiorenanporjustica.org

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

A MÁSCARA DA INDIFERENÇA / Daniel Grandinetti

Às vezes, temos a impressão de viver rodeados de pessoas bem-resolvidas, de auto-estima elevada e que não sofrem das inseguranças que sofremos. Às vezes, temos a impressão de viver num mundo de pessoas indiferentes ao que está à sua volta, satisfeitas com o que têm, e que a necessidade de olhar para o lado é apenas nossa. É como se fôssemos as únicas pessoas carentes, as únicas que precisam de atenção, as únicas que sofrem a amargura de se sentir deixadas de lado. Por nos sentimos assim, sem perceber vivemos alimentando um ressentimento generalizado, e esse ressentimento nos motiva devolver ao mundo a mesma indiferença e o mesmo distanciamento que julgamos receber dele. Será que percebemos isso? Na verdade, raramente percebemos. Ao adotarmos a atitude de indiferença para devolver às pessoas a indiferença com que, em nosso entender, elas nos tratam, é como se vestíssemos uma máscara. Vestimos a máscara da indiferença. Mas, inconscientemente, também julgamos que as pessoas conseguem ver o que está debaixo dela. Nossa intenção mais profunda é fazer com que as pessoas sofram o que elas nos fazem sofrer, e essa intenção é motivada pela crença inconsciente de que elas sabem como a indiferença delas nos faz mal. Mas, assim como acreditamos na máscara de indiferença das pessoas, elas também acreditam na nossa. E assim como a máscara delas nos faz sentir sozinhos num mundo de pessoas bem-resolvidas, a nossa as faz sentir da mesma forma. Poucas pessoas possuem a perspicácia necessária para enxergar o que está debaixo da máscara. A maioria acredita com muita facilidade nas máscaras de elevada auto-estima, felicidade e segurança que as pessoas ao seu redor usam.

Quando usamos a máscara da indiferença, nossa intenção inconsciente é comunicar às pessoas que estamos magoados com a indiferença delas, e que desejamos mais atenção. Quando mantemos distância das pessoas que gostamos, esperamos que elas tomem a iniciativa de se aproximar. Quando lhes dizemos ‘não’, esperamos que elas insistam e façam por merecer nosso ‘sim’. Ninguém usa a máscara da indiferença para se manter à distância. Pelo contrário, só mantemos a distância para dar às pessoas mais espaço de se aproximarem. Essa é a nossa intenção, e ela é motivada pela crença inconsciente de que nossos sentimentos e pensamentos verdadeiros podem ser lidos pelos outro, mesmo com todo o esforço de mantê-los encobertos. Mas, por se tratar de uma crença descabida, a vida costuma frustrar essa nossa intenção sem piedade. Se usamos a máscara da indiferença, as pessoas permanecem distantes. Se nos mantemos distantes, elas não se aproximam. Se nos afastamos na espera que elas venham até nós, ficamos sozinhos. Se lhes dizemos ‘não’, também recebemos ‘não’ como resposta. Esquecemo-nos que os outros também se sentem deixados de lado com a nossa indiferença, e que diante da nossa indiferença elas reagem semelhantemente a nós. Esquecemo-nos que elas também mantêm distância esperando que nos aproximemos delas, e que nos dizem ‘não’ na espera de insistirmos e merecermos o seu ‘sim’. Principalmente, nos esquecemos que, como nós, inconscientemente elas também acreditam que sua necessidade de atenção transparece pela máscara da indiferença.

Mantemos a indiferença na espera de as pessoas se aproximarem, e elas mantêm a delas na esperança de nos aproximarmos. O resultado mais comum dessa equação é a preservação da distância. Para se aproximar de uma pessoa que insiste se manter à distância, é necessário sagacidade para compreender o que seu distanciamento significa. Mas, principalmente, é preciso desprendimento para deixar de lado nosso próprio ressentimento e a sensação de termos sido tratados com indiferença por ela. Pois, ainda quando há a compreensão do que o distanciamento significa, às vezes o orgulho pode falar mais alto e nos fazer manter o distanciamento mesmo assim. Consequentemente, na ausência do orgulho, não é nem preciso a tal compreensão. Na ausência do orgulho e na presença do afeto, buscamos quem está distante sem pensar muito a respeito. Mas, como são raros esses momentos! E como o mundo seria melhor se eles fossem mais comuns!

Psicologia no Cotidiano
Daniel Grandinetti – Belo Horizonte

sábado, 10 de agosto de 2013

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Chacina / José Nabuco Filho

Muito estranho, o garoto não ter pólvora nas mãos, pois mesmo que ele tenha usado luvas para matar a família, ele não as usou para suicidar-se.

A chacina da família de PMs e a subcultura da vingança policial
JOSÉ NABUCO FILHO 6 DE AGOSTO DE 2013

Como uma tragédia desperta os instintos mais baixos da corporação.

pm chacina
Luis Marcelo Pesseghini com a mulher e o filho
A morte de uma família de policiais militares parece ser um caso sem precedentes. Absolutamente chocante ver que até uma criança de 13 anos morreu com um tiro, além de dois parentes que estavam na casa. Luis Marcelo Pesseghini, da Rota, era casado com Andreia Regina Bovo Pesseghini, cabo do 18º Batalhão. Marcelo era o nome do menino.

O que inicialmente foi tratado como uma chacina praticada pelo PCC, segundo a própria polícia militar, foi uma sequência de homicídios praticados pelo garoto, seguido de seu suicídio. O fato de ter sido usada apenas uma arma, e de não haver sinais de arrombamento nem de troca de tiros, praticamente descarta a possibilidade de um atirador do PCC.

A par dessa tragédia, é interessante observar a conduta dos policiais militares ante o episódio. Esse comportamento diz muito sobre a corporação militar e sobre a pessoalidade no trato da segurança pública. Quando ainda se suspeitava de uma chacina, a reação mais parecia de um bando e não de uma corporação institucional.

Chama a atenção a presença no local do crime de dois políticos ex-integrantes da Polícia Militar. O deputado estadual Major Olímpio, segundo o Estadão, entrou no local do crime e deu entrevistas explicando o que ocorreu. É mais que sabido que o local do crime deve ser preservado para o trabalho dos peritos criminais e que a presença de pessoas estranhas ao serviço apenas pode atrapalhar a perícia.

Já o vereador Coronel Telhada, que tem como uma de suas frases prediletas “se eu morrer, vinguem-me”, postou na sua página do Facebook que estava indo ao local “para nos cientificarmos do que realmente ocorreu na chacina”, como se tivesse alguma atribuição no caso.

Em página feita em homenagem ao cel. Telhada e, ao que parece, não administrada por ele, há uma foto da família morta com a frase: “Minha revolta vai passar quando quem fez isso estiver deitado…” Na mesma página, além de diversas postagens contra o que chama de “doutores dos direitos humanos”, há algumas declarações em que claramente se faz a incitação à vingança. Em uma delas, que exibe uma espécie de cartaz com a frase “bandido bom é bandido morto”, o administrador diz que “na Rota ninguém chora o enterro do amigo sem antes promover o do inimigo”. Em outra, há a foto de alguns soldados da Rota enfileirados e armados, com a inscrição: “Mexeu com a família a pegada é outra parceiro”.

Muitos policiais se mostram incrédulos sobre a versão de que o garoto teria sido o autor. Tanto que o próprio Telhada foi hostilizado por ter divulgado essa versão. Alguns disseram que ele estava ocultando a verdade por interesses políticos.

Um policial ouvido por mim afirmou que o clima é de vingança: “Internamente os policiais querem guerra, querem que alguém aponte um indício de que foi uma execução para haver um revide.”

Ao que parece para acalmar a tropa, o comandante geral da PM, cel. Benedito Roberto Meira, divulgou a seguinte nota na intranet corporativa: “As circunstâncias relativas à morte do casal de Policiais Militares e seus familiares estão sendo objeto de investigação; a perícia, inclusive, está em andamento. Assim que tivermos informações consistentes divulgaremos. Seja responsável, não dê crédito a boatos”.

Nessa subcultura, matar policial é crime que se paga com a própria vida. Essa regra está de tal modo arraigada na corporação que muitos fazem publicamente sua apologia. O problema é que essa postura em nada diminui a criminalidade, servindo apenas para acrescer ainda mais violência ao fato ocorrido, agravando a insegurança — de toda a população.

domingo, 4 de agosto de 2013

O Círculo / Bya Albuquerque

Toda vez que eu recebo um depoimento, seja para postar no blog ou não, somente o leio uma única vez. Até os meus. Aliás, não preciso reler, pois todos têm pontos comuns. Ou seja: é um círculo. Sem começo e sem fim. As nossas histórias são diferentes e iguais. Diferentes no seu desenvolvimento e parecidas no final. A igualdade está na falta de solidariedade, no tabu pré-concebido e na omissão social. Omissão social, mas como?...vocês perguntariam. A resposta é simplesmente que sim. Já repararam nos posts das comunidades? Uns somente postam (repassam) textos de terceiros; outros são altamente sensacionalistas; outros se escondem atrás de posts bonitinhos e de auto ajuda. Pouquíssimos comentários. Quase nenhuma opinião. Zero de discussão. E é logico que eu e a minha comunidade estamos nessa estatística.
Poucos tentam realmente mudar a situação. Mas é praticamente impossível. Dói ver quando uma celebridade sofre um revés e todos sentem pena e todos são solidários. Mas a população não é composta por celebridades. É composta por seres humanos comuns. Seres humanos sedentos por compreensão...justiça...aceitação. A grande maioria sem atendimento médico / psicológico. Com dores físicas e emocionais.
Vou falar um pouco da Comunidade "Filhas do Silêncio". Nós, filhas e filhos do silêncio sofremos o abuso sexual numa época onde até o sexo era tabu, quanto mais a violência sexual, principalmente a intrafamiliar. Sofremos em silêncio e, além de sermos agredidos, também éramos abandonados a própria sorte. Fomos humilhados pelo nosso jeito de ser, o que hoje seria chamado de bullying. Muitos cometeram suicídio, voluntário ou involuntário. Aqueles que conseguiram sobreviver, sofrem de depressão...auto mutilação...baixa estima...várias fobias...problemas com sono...dependência química...transtornos alimentares. É um círculo. O emocional causa danos físicos e os físicos causam problemas emocionais. 
Não posso falar pelos outros. Apenas os represento em certas situações. Mas posso falar por mim. Eu era aluna excelente, pois adorava estudar. Porém na adolescência fui uma aluna totalmente medíocre. Por falta de sono, pelo terror / medo sempre vividos e pelo bullying sofrido (inclusive pela minha própria mãe), perdi o interesse pelos estudos ou melhor, não conseguia mais me concentrar. Abandonei-me totalmente. Me alimentava mal, não conseguia dormir ou descansar e praticava auto mutilação que beirava a auto punição. Mas punição pelo que? Por meu pai sentir tara por mim, por minha mãe me ignorar? Tudo isso foi muito cruel...brutal. Não somente para mim. Continua sendo cruel e brutal para muitos.
Vi o meu potencial rebaixado e deixei isso acontecer. Deixei as pessoas pisarem em mim e fiquei e muitas vezes ainda fico calada. Aos 46 anos,sinto-me velha e inútil. É como se não houvesse mais nada para mim. E sei que não compartilho esses sentimentos sozinha. Muitos de nós, vítimas de violência sexual e psicológica / emocional sentimos-nos enterrados vivos.
Porém quantos sonhos eu tive e quantos sonhos precisei enterrar. Quando era adolescente, como não conseguia dormir, ficava sonhando acordada com uma família ideal. Não aquela que me desse tudo materialmente, mas aquela que me amasse, que desse apoio aos meus sonhos. Depois, veio a fase de querer intensamente um irmão mais velho. Aquele que mesmo que implicasse comigo, ao mesmo tempo me amasse e protegesse. Um irmão para quem eu fosse importante e querida...Hoje em dia, o meu maior sonho é dormir. Sem remédios...sem ansiedade...sem sonhos. Ou então, pelo menos em vez de quando, ter um sonho bom...bonito...reconfortante. Mas esses são meus sonhos pessoais, íntimos e, que, dificilmente ou nunca se realizarão. Não por eu ser pessimista, mas sim por ser realista.
Mas na verdade, o que eu quero é que num futuro próximo esse círculo dos abusados sexualmente se rompa. Trazendo à tona ajuda, solidariedade e aceitação / compreensão. Que jamais novamente um abusado precise provar que foi uma VÍTIMA!!! E não estou sendo sonhadora. Nesse ponto estou sendo esperançosa...pois ainda acredito na humanidade e na sua capacidade de entrega e superação.

Bya Albuquerque, Ribeirão Preto, 05 de agosto de 2013.

SEM TEMPO / AMARÍLIS ADÉLIO

O tempo,
uma fração dentro do tempo...

Um pulsar do coração,
sem tempo.

Na pressa, tropeça;
não chega a lugar nenhum.

Se funde confunde,
com os ponteiros do relógio...

Que marcam um tempo,
que não é seu tempo!


sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Dilma sanciona projeto que garante atendimento a vítimas de estupro / Luana Lourenço, Repórter da Agência Brasil

Hospitais deverão dar 'pílula do dia seguinte' a mulher que sofreu abuso.
Presidente sancionou projeto sem vetar nenhum ponto do texto.

Brasília – A presidenta Dilma Rousseff sancionou hoje (1°) integralmente, sem vetos, a lei que obriga os hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS) a prestar atendimento emergencial e multidisciplinar às vítimas de violência sexual. O projeto que deu origem à lei foi aprovado pelo Senado no começo de julho.

O atendimento a vítimas de violência deve incluir o diagnóstico e tratamento de lesões, a realização de exames para detectar doenças sexualmente transmissíveis e gravidez. A lei também determina a preservação do material coletado no exame médico-legal.

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, disse que a sanção transforma em lei práticas que já eram recomendadas pelo Ministério da Saúde. “Ao ser sancionado, [o projeto] transforma em lei aquilo que já é uma política estabelecida em portaria, que garante o atendimento humanizado, respeitoso a qualquer vitima de estupro. Estou falando de crianças, adolescentes, pessoas com deficiência mental, homens e mulheres, qualquer cidadão brasileiro.”

O governo manteve na lei a previsão de oferecer às vítimas de estupro contraceptivos de emergência – a chamada pílula do dia seguinte –, mas vai encaminhar ao Congresso Nacional um projeto de lei alterando a forma como a prescrição está descrita na lei. De acordo com Padilha, o termo “profilaxia da gravidez” será substituído por “medicação com eficiência precoce para a gravidez decorrente de estupro”, que estava no projeto original. A alteração, segundo o ministro, corrige qualquer interpretação de que a medida poderia estimular abortos na rede pública.

No projeto que será encaminhado ao Congresso, o governo também vai corrigir uma imprecisão sobre o conceito de violência sexual. A nova redação considera violência sexual “todas as formas de estupro, sem prejuízo de outras condutas previstas em legislação específica”. Do jeito que está na lei sancionada hoje, o texto poderia excluir do conceito crianças e pessoas com deficiência mental, que não têm como dar ou não consentimento para atividade sexual.

De acordo com a lei, o paciente vítima de violência sexual deverá receber no hospital o amparo psicológico necessário e o encaminhamento para o órgão de medicina legal e o devido registro de boletim de ocorrência. Os profissionais de saúde que fizerem o atendimento deverão facilitar o registro policial e repassar informações que podem ser úteis para a identificação do agressor e para a comprovação da violência sexual.

http://www.viomundo.com.br/politica/dilma-sanciona-sem-vetos-lei-que-garante-atendimento-a-vitimas-de-violencia-sexual.html

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Abuso sexual na infância produz modificações específicas na estrutura cerebral / Marjorie Wanderley

Diferentes formas de abuso na infância aumenta o risco de doenças mentais, bem como a disfunção sexual na idade adulta, mas pouco se sabe sobre como isso acontece. Uma equipe internacional de pesquisadores, incluindo Charles B. Nemeroff da Escola Miller, MD, Ph.D., Leonard M. Miller Professor e Coordenador de Psiquiatria e Ciências Comportamentais, descobriu uma base neural para esta associação. O estudo, publicado na edição de 01 de junho do American Journal of Psychiatry, mostra que crianças abusadas sexualmente e emocionalmente, apresentam mudanças específicas e diferenciadas na arquitetura do cérebro que refletem a natureza desses maus-tratos.

Os pesquisadores já sabiam que as vítimas de abuso na infância muitas vezes sofrem de transtornos psiquiátricos no decorrer da vida, incluindo disfunção sexual após o abuso sexual. Os mecanismos mediadores subjacentes desta associação têm sido mal compreendida. Nemeroff e um grupo de cientistas liderados por Christine Heim, Ph.D., diretor do Instituto de Psicologia Médica da Universidade de Medicina Charité de Berlim, e Jens Pruessner, Ph.D., diretor do Centro de McGill de Estudos em Envelhecimento da McGill University, em Montreal, Sugerem a hipótese de que alterações corticais durante os acontecimentos de maus-tratos tem desempenhado um papel. Para estudar essas possíveis mudanças, os pesquisadores usaram a ressonância magnética (MRI) para examinar os cérebros de 51 mulheres adultas que foram expostas a várias formas de abuso na infância.

Os resultados mostraram uma correlação entre as formas específicas dos maus tratos e afinamento do córtex precisamente nas regiões do cérebro que estão envolvidas com a percepção ou o processamento do tipo de abuso. Especificamente, o córtex somatosensorial, a área em que os órgãos genitais femininos estão representados, foi significativamente mais fino em mulheres que foram vítimas de abuso sexual na infância. Da mesma forma, em vítimas de maus-tratos emocionais foram encontradas indícios conclusivas para uma redução da espessura do córtex cerebral, áreas específicas associadas a autoconsciência, auto avaliação e Regulação emocional.

“Este é um dos primeiros estudos que documentam as alterações á longo prazo em áreas específicas do cérebro como consequência do abuso infantil e maus tratos emocionais”, disse Nemeroff, que também é diretor do Centro sobre o Envelhecimento. “A constatação de que tipos específicos de trauma nos primeiros anos de vida trazem efeitos discretos e duradouros no cérebro que desencadeiam sintomas na vida adulta é um passo importante para o desenvolvimento de novas terapias para intervir e reduzir a carga psiquiátrico/psicológico de uma vida possivelmente traumatizada”.

“Nossos dados apontam para uma relação precisa entre a experiência que causa a remodelação neural e os problemas de saúde mais tarde”, disse Heim. Pruessner concordou que o “grande feito foi encontrar a especificidade regional no cérebro, que corresponde ao tipo de abuso, isso é notável”.

Os cientistas especulam que a região de afinamento do córtex pode servir como um mecanismo de proteção, protegendo imediatamente a criança ao bloquear as lembranças sensoriais a partir da experiência traumática. No entanto, esse afinamento das seções do córtex pode iniciar o desenvolvimento de problemas de comportamento na vida adulta. Os resultados deste estudo estendem a literatura sobre a capacidade de reorganização neural, e mostra que os campos da representação do córtex podem ser menores quando determinadas experiências sensoriais são prejudiciais ou impropriamente desenvolvidas.




ASSÉDIO MORAL: A SUTIL VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER / VILA MULHER

Comentários desagradáveis, muito sutis, como se fosse em tom de brincadeira, mas atingem em cheio os pontos fracos e te diminuem, no seu íntimo. Devagar, as pequenas críticas vão minando o seu amor próprio, e acabam se tornando uma típica violência velada, chamada de assédio moral. Mesmo quando vem um elogio, em seguida, vem um comentário maldoso, que acaba destruindo o efeito positivo de cada palavra.
Se você sente isso na pele, não se iluda, é simassédio moral. É uma violência grave que afeta tanto quanto a violência física, ela te abala por dentro. Ela destrói o que você tem de mais precioso - sua autoconfiança e sua autoestima.
Com o passar do tempo, os defeitos e problemas apontados pelo agressor, aqui no caso, o marido ou namorado é tão intenso, que a vítima passa a acreditar que realmente não está bem e tem defeitos terríveis. A mulher vítima desse tipo de violência perde toda a sua identidade e passa a se enxergar pelos olhos do outro, e se sente sem valor. É uma violência velada, e difícil de ser percebida por alguém que não está muito próxima da vítima.
Para a psicóloga e psicoterapeuta reichiana, Frinéa Souza Brandão, coordenadora da Neurofocus Psicoterapias, do Rio de Janeiro, esse tipo de violência começa a se tornar uma forma de comunicação para o casal e pode virar um hábito. "O que ele quer é uma submissão total e mesmo que isso aconteça nunca fica satisfeito. As humilhações só aumentam não importando o que a companheira ou namorada faça. Em alguns momentos, ele diminui e aí é que mora o perigo, porque constrói-se a ilusão que as coisas vão melhorar e o relacionamento continuar bem".
Como não sentir a tortura da insegurança, e ânsia de agradar a quem se ama ou se deseja? E por que há homens que cometem esse tipo de assédio? Eles se sentem inferiores a essa mulher, ou incapazes de dominá-la e sentem-se acuados. A única arma de possuem contra a mulher é a força dos sentimentos, e das armadilhas em que eles prendem sua companheira. Com críticas inseridas em momentos-chave, eles buscam minar a sua segurança como pessoa e como mulher.
Fique atenta a isso, e, se notar que está acontecendo com você, a melhor ação é se questionar. Até que ponto você ama essa pessoa capaz de fazer isso com você, apenas para diminuí-la?
Pense nisso.

O QUE FAZER EM CASO DE ESTUPRO / JOSÉ GERALDO DA SILVA

Atendimento às Vítimas de Violência Sexual

A primeira providência do policial, familiar ou qualquer pessoa que tenha contato com a vítima é: encaminhá-la ao hospital ou pronto-socorro, com as mesmas roupas que usava na hora do estupro, sem se lavar, sem tomar banho, para exames e tratamentos que precisam ser imediatos.

Caso troque de roupa, guarde as roupas que estava usando para não limpar as provas, futuramente poderá ser feito exame mo IML.
O serviço médico deve ser procurado o mais rápido possível, pois a prevenção de gravidez e de doenças sexualmente transmissíveis é mais eficaz quanto menor o tempo transcorrido entre a agressão e o atendimento.
O atendimento imediato deve ser realizado por uma equipe multiprofissional que inclui médico, enfermeira, psicóloga e assistente social.}
O hospital deve dispor de equipe treinada para fazer o acolhimento da mulher. 
As consultas devem transcorrer em ambiente adequado onde prevalecem as premissas de uma atitude compreensiva e solidária da equipe de atendimento, evitando-se comportamentos inquisitivos e juízos de valores.
O atendimento imediato consiste em entrevista e exame físico com a enfermagem, consulta médica, anticoncepção de emergência, profilaxia de doenças sexualmente transmitidas, incluindo hepatite B e HIV-AIDS, atendimento psicológico e orientações legais.

Todos os medicamentos são fornecidos gratuitamente pelo hospital neste primeiro atendimento.
As observações dos diferentes profissionais são anotadas em uma única ficha clínica, que deve ficar arquivada no serviço. Se for necessário, cópia desta ficha poderá ser disponibilizada para a mulher ou seu representante legal (se menor).
A comunicação do crime é prerrogativa da mulher. É ela quem decide se deve dar queixa à polícia ou não. As mulheres, ou seus representantes legais, devem ser estimuladas a comunicar o acontecido às autoridades policiais e judiciárias, porém a decisão final é delas. O hospital somente comunicará a violência às autoridades nos casos previstos em lei. 
Após o atendimento inicial devem ser agendados retornos em ambulatório específico para acompanhamento, durante seis meses, com ginecologista, infectologista, psicóloga, enfermeira e assistente social.Devem ser realizados exames laboratoriais específicos para doenças de transmissão sexual, hepatite B, hepatite C e AIDS.

Para os casos de gravidez decorrente de estupro a mulher deve ser atendida em primeiro lugar pela assistente social do hospital. Posteriormente, é atendida pela psicóloga, pela enfermagem e pelo médico. Quando a mulher decide continuar com a gravidez, é acompanhada por equipe especializada que, se for o seu desejo, providenciará a doação da criança por ocasião do nascimento.

Se a mulher solicitar a interrupção da gravidez, esta solicitação deve ser discutida em reunião multidisciplinar, com a participação da diretoria clínica e da comissão de ética do hospital. A decisão de interromper a gestação depende de fatores médicos e psicológicos, entre os quais, a idade da gestação. Decisão favorável à interrupção somente será tomada se atendidos todos os requisitos da legislação brasileira.

Adaptado do texto do CAISM e aprovado pelo Dr. Aloisio Jose Bedone por José Geraldo da Silva e publicado no Orkut em 03/07/2007