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segunda-feira, 27 de maio de 2013

Manipuladores / Adriana Tanese Nogueira

Há dois tipos de manipuladores: os maquiavélicos e os “bonzinhos”. Os primeiros sabem o que estão fazendo, os segundos “não sabem que sabem”. em ambas as categorias há uma gradação de consciência que vai da nível mais consciente (a pessoa está perfeitamente desperta) para aquele parcialmente ou totalmente “distraído”, que é de quem faz “sem perceber”.

O maquiavélico em sentido estreito é aquele indivíduo que, determinado em alcançar sua meta, toma as medidas necessárias mesmo que tenha que enganar o outro, porque, como ensinou Machiavel, “o fim justifica os meios”. O manipulador maquiavélico é esperto,
oportunista, calculador e rápido no agir. Como, porém, nem todo mundo é dotado da inteligência afiada de um Maquiavel, mas não deixa de ser oportunista, há muitas pessoas que manipulam os outros e as situações tentando, ao mesmo tempo, se escondendo de si mesmos. Se trata de uma complicada acrobacia mental que leva à neurose. É como se uma mão “não soubesse” o que a outra faz, desta forma a pessoa obtém um meio termo que serve a dois patrões: seus interesses manipuladores e sua cara de pau.

O outro tipo de manipulador é mais sutil. Se o primeiro é, vamos dizer “masculino”, direto, descarado e insensível, o segundo é “feminino”, indireto, disfarçado e venenoso. A manipulação deste tipo mexe os pauzinhos num nível mais profundo, geralmente o afetivo. Orquestrando o que dar e o que tirar, o que mostrar, insinuar, deixar no ar, quando sorrir, aparecer e sumir, o manipulador feminino se parece com o que chamaríamos de bruxa na acepção negativa. O princípio deste estilo de manipulação está no feminino que suga seus poderes nas sombras, nunca se expõe e costuma ter uma fachada inócua e bondosa. Nem por isso é encontrado só em mulheres, apesar delas darem o protótipo original. Nos homens, a fonte desse tipo de manipulação vem do que Jung chama de Anima. Como a Anima masculina é primeiramente moldada sobre o perfil da mãe real, temos aí a porta aberta para as artimanhãs femininas penetrarem no mundo masculino e sobretudo na forma como o homem lidará com os afetos.

Em termos junguianos, o complexo do ego do manipulador é fraco, não sendo capaz de suportar o peso da ética. Ele está parado num estágio infantil quando o próprio umbigo era mais importante do que o resto do mundo. Na primeira infância esta atitude é indispensável para o saudável desenvolvimento do bebê, na idade adulta se torna um handicap que impede a maturidade. Entre outras coisas, o manipulador não é capaz de encarar a realidade e seus inevitáveis limites.

Se o manipulador masculino mexe com teus interesses objetivos, com teu bolso, tua carreira, tua posição social, teu prestígio, tuas ambições, o manipulador feminino toca os fios da tua auto-estima, do teu se sentir aceito, amado, valorizado, do teu pertencer ao grupo, da tua identidade enfim. Enquanto o manipulador masculino pode te deixar sem um tostão e no buraco, o manipulador feminino acaba com tua força de vontade. Ambos são malévolos, prepotentes e egocêntricos. Ambos são incapazes de amar.

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