A vergonha e a culpa acompanham a criança sexualmente abusada, e tem um grande impacto na sua auto-estima e na maneira como ela interpreta o abuso sexual. A vergonha é também um fator que define se a criança interioriza a experiência ou se a exterioriza e de que modo. Frequentemente, vergonha e culpa são palavras usadas como sinônimo pelas pessoas. De fato, crianças e adultos sobreviventes tendem a usar o termo culpa em vez de vergonha. Muitas crianças e mesmo adultos não têm clareza de que existem distinções significativas entre vergonha e culpa.
Culpa:
A culpa é normalmente associada a uma ação específica, ou omissão, que transgride formas aceitáveis de comportamento e é merecedora de punição. Isso está em completo contraste com a vergonha, que é caracterizada por uma falha geral de caráter. A culpa instila tensão, remorso ou pesar, que motiva uma ação reparadora como indenização, que é pagável pela apropriada exibição de uma consciência culpada em uma dimensão suficiente para abrandar a raiva justificada que a violência originou. A culpa também permite uma resolução do conflito mais construtiva e menos hostil por parte do transgressor, que pode se desculpar e pedir perdão. No caso da vergonha, é mais complicado chegar a uma resolução fácil do conflito, com formas pacíficas de comunicação.
Vergonha:
A vergonha é mais difusa que a culpa e esmagadoramente autofocalizada. É caracterizada pela auto-avaliação negativa de alguns comportamentos específicos (ou pela falta de comportamento) quando um padrão interiorizado foi violada. Na vergonha, o ser inteiro se sente exposto, degradado e inferiorizado, o que é mais poderoso e intenso que a culpa. A vergonha é caracterizada pela preocupação com a opinião alheia. Na maioria das vezes, a vergonha requer uma total transformação de caráter, incluindo transformações físicas. A vergonha é também uma interiorização de julgamentos de julgamentos sociais dos outros, levando a pessoa a sentir aversão, desprezo, desgosto e ódio em relação a si mesma.
Respostas da criança à vergonha:
Para lidar com sentimentos de vergonha, a criança tende a desenvolver um falso eu para se adaptar à aceitação do abusador e à aceitação dos outros. Isso leva à inibição da comunicação honesta. A criança concilia seus sentimentos de fraqueza, carência, vulnerabilidade, inadequação e dependência ao desenvolver uma fachada de força e confiança. A criança finge ser invulnerável e acredita que é onipotente ao oprimir a parte emocionalmente carente do seu eu. Essa é uma virada interna contra o eu, que pode levar à fragmentação do eu e à falta de identidade.
O foco da vergonha:
- O corpo: isso pode levar a distúrbios de alimentação ou ao desejo de desfigurar o corpo por meio de automutilação.
- Fracasso nas realizações: a luta constante da criança para alcançar determinados padrões.
- Relacionamentos: perda da atratividade, tanto física como emocional.
- Sentimentos: um leque de sentimentos confusos sobre ansiedade, ocultação, excitação, raiva, inveja, necessidade de outros, dependência, choro, expressão de dor, vulnerabilidade, dizer "Eu te amo".
- Vergonha do grupo: a criança se sente estigmatizada pelos outros.
Sentimentos negativos associados à vergonha:
Os mais comuns são a ansiedade, desamparo e inferioridade. A humilhação é um forte componente no abuso, assim como o nojo, especialmente nojo de si mesma, do abusador, dos atos sexuais, de seu corpo. Medo e hostilidade são acompanhados por tristeza, junto com sentimentos de vulnerabilidade e dependência.
Comportamentos associados à vergonha:
- Evitação: em ações, sentimentos, pensamentos, comportamentos, retraimento.
- Ocultação: cobrir-se física e psicologicamente, uso de álcool, drogas.
- Prontidão ou atenção intensificada.
- Agressão
Nenhum comentário:
Postar um comentário