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quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Filhas do Silêncio / Bya Albuquerque

Quando fundei a comunidade, dei o nome de "Filhas do Silêncio". Com o tempo percebi que não eram somente filhas, mas também filhos. E com o passar de anos vi que há outra categoria de filhas e filhos do silêncio: aquela que sabia dos abusos e se calava.
Recebo muitos e-mails dos parentes das vítimas que não sabiam como agir ou não queriam se intrometer. Isso é muito triste e brutal, pois omissão também é crime, já que dá poder ao abusador e gera mais violência.
Percebi também que essa omissão geralmente ocorre nas classes sociais mais altas, onde a denuncia poderá gerar não só desconfiança, mas também escândalos onde a vítima será julgada e condenada...mesmo sendo a VÍTIMA. Muitos julgam e poucos são que estendem a mão...
No meu caso não foi diferente. Até hoje sou repudiada pela família, inclusive a minha mãe e minha irmã. Sorte da minha irmã, pela qual aguentei tantos anos de abuso e que me acha louca, porém teve e tem uma vida com escolhas, escolhas que eu permiti que tivesse, escolhas essas que não tive. Sorte da minha mãe, que com a morte do meu pai livrou-se de um déspota e recomeçou a viver. Sorte também da família paterna e dos amigos, que jogam a culpa da loucura em mim e, com isso, podem dormir em paz. Mas o que eles não sabem é que poderiam ter salvo uma vida. E o que desconhecem é que o abuso sexual pode ocorrer com qualquer um. Fechar os olhos e se calar não resolve o problema e nem apaga o passado.
Por falar em passado, minha mãe sempre "joga" na minha cara que devo parar de vivencia-lo. Muitas pessoas acham isso. Mas o que elas não sabem...não entendem ou não querem entender é que o nosso (dos abusados) presente é construído com os fatos do passado e que o nosso futuro também será baseado no mesmo. Eu não vivo do passado, jamais me lamento por ele...mas não posso negar as consequências do mesmo: stress pós traumático e suas doenças como: produção do hormônio cortisol que engorda horrores, depressão, fobia social, baixa estima, transtornos alimentares, auto mutilação, insônia e outros...
Portanto, nós os abusados não vivemos...sobrevivemos.
Fora as besteiras que somos obrigados a ouvir...
Resolvi escrever o texto porque sinto-me triste com tanto descaso e indiferença.Taxar uma vítima de "problemática" é negar o problema e o abuso. É o que minha mãe e a família faz.













2 comentários:

  1. Ola bya, perfeito e a mais pura realidade o conteudo do seu post,infelizmente esta situação só vem se agravando e o numero de abusos hoje em dia é um absurdo,infelizmente a maioria dentro da própria casa,como no seu casa,realmente espero que um dia esta situação possa ser amenizada e que as vitimas não tenham medo ou vergonha de denunciar,pois só assim estaremos contribuindo de alguma forma para que esta epidemia de abusos possa ao menos diminuir...
    Beijos amiga,parabéns pela sua força e serenidade para lidar com tal situação!!!
    Que Deus abençoe grandemente sua vida,para que algum dia você supere este trauma.Estarei orando por vc...

    tamujunta

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  2. Obrigada, Luciana, pelo apoio e carinho. Beijos no coração...Bya!!!

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