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domingo, 13 de março de 2011

Momentos...

MOMENTO II


Alma* acordou totalmente desanimada, mesmo sendo domingo. Quase não dormiu nada, sonhando acordada praticamente durante toda a noite. Era assim que vivia aos 16 anos, mais alma que vida. Não passava na sua cabeça que já estava com forte depressão e vários outros distúrbios emocionais. Naquela casa, a palavra depressão significava frescura. Como todo domingo, de manhã iam à praia. Na volta, paravam num barzinho da moda e comiam um petisco. Todo esse tempo, Alma sonhava acordada...Sonhava com outros pais, que era querida e bonita e que tinha muitos amigos. E, principalmente, que era muito amada. O pai preparava o almoço, enquanto tomava um aperitivo com a mãe e conversavam. Como sempre, a conversa girava em torno dos afazeres da tarde: ida ao shopping ou ao supermercado da mãe com a filha caçula. Alma, quase chorando, pedia para sair junto. Mas o olhar ameaçador do pai e a total indiferença da mãe já prediziam o que iria acontecer... À tarde, na hora da mãe sair, Alma fazia mais tentativas de ir junto...tudo em vão. Quando a porta se fechava, o pai partia imediatamente para o ataque. Alma não tinha para onde fugir, onde se esconder ou para quem contar. Só podia sonhar...As investidas do pai eram cada vez mais fortes e agressivas. Queria a virginidade da filha, seja através das fortes ameaças e chantagens ou através de oferecimento de altas somas de dinheiro. Alma não sabe como não cedeu, mas o pai sempre conseguia se satisfazer, obrigando a filha a práticas mais nojentas. Quando terminava, forçava a Alma a pegar algum dinheiro, como compensação de ter sido tão "obediente". Dinheiro esse que ela nunca usou para si! Depois do ato, o pai fazia de tudo para acalmar e agradar a filha. Quando a mãe chegava com a irmã, o ambiente já estava normalizado. Somente a Alma percebia a mãe mais agressiva e distante. O domingo terminava com a ida à pizzaria. Na volta, Alma se refugiava no quarto para ler, e, mais tarde, quando todos estivessem dormindo, para sonhar acordada. Era esse amor que recebia em sonhos que fazia a Alma caminhar sempre em frente, tentando não pensar na morte e ainda acreditando num futuro melhor...


*O nome Alma, assim como Vida, é fictício. Infelizmente, os fatos são reais.

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