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quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Estamos expostos! / Mirian Giannella

EXPOSTOS AO RISCO
As consequências dos abusos na infância e o estresse pós-traumático
Milhares de crianças por todo o mundo são vítimas de incesto, de abusos físicos e sexuais e do tráfico para fins de exploração sexual. 
As conseqüências para as vítimas são desastrosas, afetando toda a vida desses sujeitos colocados em lugar de objetos passivos ao serviço deles. Sem saída senão a morte, obrigados a vender seu corpo por micharia, a se drogar para aceitar a degradação. Desvalorizados, desmoralizados, humilhados, destituídos da dignidade humana, escravizados, imobilizados, o que lhes dá lucro, portanto prazer. 
Há milênios eles usam de estratégias perversas para expropriar os irmãos de seus direitos inalienáveis, portanto, há ruptura de contrato social, dos códigos de ética por parte daqueles que deveriam nos proteger! Sociedade criminosa! Todos omissos confundindo a vítima com o criminoso, para a punição das vítimas. Esta é a estratégia deste jogo perverso em que eles sempre ganham contra indefesos. 
Estamos expostos ao risco, ameaçados de morte por quem deveria nos proteger! Não se tem a quem apelar?
Os sintomas do estresse pós-traumático
Tal ruptura intencional é que reitera o estado de estresse pós-traumático que captura a vítima indignada com a desmoralização constante e a recusa da aceitação dos fatos. Não há reparação? Depois dos abusos, o cinismo da sociedade, a omissão, a ignorância. Crianças como presas indefesas do tráfico de todo tipo. 
A vítima fica em estado de estupefação, fica siderada, com o trauma atuando no pano de fundo, o que causa dissociação, divisão da psique, paralisia, anestesia, alternando com fases maníacas, de excitação. Possível bipolaridade entre mania e depressão, gerada pela psicopatia ambiente.
O trauma fica se repetindo e toma a forma de sonhos, pesadelos, ansiedade, reações exageradas e até violentas em sua defesa e, às vezes, a necessidade compulsiva da evocação dos fatos traumáticos. 
Deve-se compreender que o dano fica pedindo reparação. 
Lembranças dolorosas retornam e aniquilam a auto-estima do sujeito, com depressão, idéias de suicídio, problemas na vida sexual com ausência de prazer denotam a interdição à vida causada pela ameaça de morte que o trauma significa. 
A criança que teve seu corpo violado, fica arrombada, aberta a novas agressões, expondo-se à situações de risco. A vítima fica com o agressor dentro dela, fica identificada com o agressor, o seu desejo se torna o desejo dele, fica dominada, presa na armadilha enquanto objeto passivo, não consegue se desvencilhar. O agressor age por ela, a boicota, a agride, a manipula. Ela fica constrangida em um corpo que não lhe pertence mais. 
Por isto, a vítima deve ser tratada e não deixada no abandono e negligência, todos se fazendo de surdos, destituindo-a da sua verdade, da verdade da sua história. A ferida pede tratamento para cicatrizar, o buraco deve ser cheio de amor e carinho para fechar. As artes são um bom caminho para a expressão das dores e feridas profundas, que significam sua morte em vida.
Um caminho para as vítimas
A vítima precisa se separar do agressor de qualquer forma, de todas as formas, separação tanto no simbólico, quanto no imaginário, como no real. As representações simbólicas fazem efeito de separação, colocam distância, assim escrever, desenhar e vivenciar através das terapias e teatro catártico são caminhos. 
É preciso ouvir e sancionar o que a vítima, muitas vezes, criança sem os elementos para compreender o vivido, relata do que sente. 
É preciso dizer à vítima que ela tem o direito de se defender, de dizer não, direito ao desejo e de escolher o seu projeto de futuro! A gente não nasce sabendo, mas tem uma noção, ainda não nomeada, e a realidade confunde. É preciso nomear os direitos. Precisa que a vítima comece a se defender e para isto basta ela saber que tem direitos! Aí começa a se separar a vítima do criminoso. 
A omissão de todos é muito grave
É de importância capital para a vítima que se nomeie o crime e o criminoso e que a interdição seja colocada sobre o ato.
A interdição que deveria recair sobre o ato imundo do abusador recai sobre todos os atos da vítima que fica com seu ser paralisado, fica ela interditada. Para a vítima existe sempre o antes e o depois do trauma. 
Ao denunciar, testemunhar, relatar a vítima se desinterdita e volta à vida, basta acompanhar e orientar, pois a sociedade é feita para encobrir a tirania, e é preciso vencer muitas barreiras da opressão ambiente. 
É preciso dizer que o ato foi imundo, indevido, que foi invasão de privacidade, desrespeito, que o abusador não tinha esse direito, que todos devem proteger os indefesos, que as relações devem ser consentidas e não com adolescentes e crianças, seres em desenvolvimento. 
Propiciar um lugar de sujeito ativo à vítima dando-lhe possibilidade de expressão e ouvindo-a, sancionar a sua verdade. 

Mirian Giannella é socióloga e psicanalista, coordenadora do
Observatório da Clínica
http://giannell.sites.uol.com.br/EGCdoB.htm
Blog Apoio às vítimas
http://apoioasvitimas.blogspot.com
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apoioasvitimas@gmail.com

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