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quarta-feira, 23 de maio de 2012

Na violência sexual, ficar em silêncio é atitude mais comum / Rosely Sayão

"Quando o assunto é bullying, fazemos o maior barulho. Reportagens, colunas, palestras, orientações, conselhos, livros e mais livros.
Acreditamos que, adquirindo muita informação a esse respeito, nossos filhos ficarão mais seguros. Já quando o assunto é violência sexual contra crianças e adolescentes...silêncio é o que fazemos.
O constrangimento que sentimos em relação a essa situação é tamanho que preferimos ignorar o assunto ou, pelo menos, encontrar boas justificativas para isso. Acreditar, por exemplo, que esse é um fato que não atinge famílias como a que pertencemos costuma ser uma delas.
Acontece. Em todo tipo de família. E mais: em geral, são pessoas bem próximas à família que praticam tais atos.
Tios, avós, amigos íntimos da família, padrastos, vizinhos que partilham da intimidade da casa, etc. São esses, entre outros, os personagens principais, segundo os estudos apontam, dos abusos sexuais contra os mais novos.
É um caso bem sério esse, principalmente quando nos lembramos de duas características de nosso mundo.
A primeira: os mais novos estão eroticamente hiperestimulados. Acham "normal" as cenas que assistem nos canais de TV, as fotos que veem nas revistas e sites. Podem achar "normal" viver uma experiência desse tipo, portanto.
A segunda: hoje, crianças e jovens não sabem mais que têm direito à intimidade. Aliás, nem sabem o que é isso.
Nos canais abertos, em horários que as crianças estão expostas à TV, há uma explosão de "reality shows". Eles não sabem, portanto, o que é intimidade.
Temos motivos para não ficar em silêncio quanto a assunto tão importante. A questão é saber tratar do tema com a delicadeza que ele exige."


ROSELY SAYÃO é colunista da FOLHA.


Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO, 22 de maio de 2012.

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