Pedir desculpas e desculpar podem ser difíceis. O rancor é automático, o perdão é mais sofisticado.
Mas pesquisas mostram que tanto um como outro têm grande impacto em nossa vida mental e na saúde como um todo.
Mas pesquisas mostram que tanto um como outro têm grande impacto em nossa vida mental e na saúde como um todo.
É difícil pedir desculpas? Talvez essa cena deletada do premiado seriado Louie, escrito, dirigido, interpretado e editado pelo brilhante comediante americano Louis CK – o cara da comédia, atualmente – possa ajudar (assista). Ao ensinar a filha mais nova a se desculpar, mesmo que tenha sido “sem querer”, a vinheta mostra bem a genialidade de CK, que parece um maestro capaz de orquestrar nossas diversas emoções, choro, riso, raiva e até schadenfreude com harmonia e precisão.
Se soubéssemos o poder real do pedido de desculpas seríamos mais dispostos a utilizá-lo. Ano passado foi publicada uma pesquisa mostrando como desculpar-se interfere na decisão da pessoa ofendida. A taxa de perdão foi duas vezes e meia maior entre as pessoas que receberam uma mensagem se desculpando. Mas é interessante notar que elas demoraram mais para tomar sua decisão – exames de Ressonância Magnética mostraram que mais áreas do cérebro foram recrutadas pelas pessoas que decidiram perdoar, o que levou mais tempo. Quando alguém se desculpa, não pensamos mais apenas racionalmente para decidir se aquilo foi justo; nesse momento a empatia entra em cena, para decidir se é perdoável. O rancor é automático, o perdão é sofisticado.
Mas se pedir perdão é eficaz, perdoar, então, é um mecanismo psicológico muito mais poderoso do que se imagina. Quando sentimos alguma injustiça – seja por sofrermos algo, sermos privados do que merecíamos etc – temos a tendência de buscar reparação. Como essa nem sempre é possível, cria-se uma sensação de ressentimento, raiva, amargura, desconforto associados à injustiça – o tal rancor automático. Esse estado, contudo, é bastante estressante, e se torna prejudicial ao organismo como um todo. Perdoar é um processo – e não um momento – de redução gradual dessas emoções negativas. Existem outras formas de reduzir a sensação de injustiça – vingança, condenação judicial do ofensor, crença na reparação divina, justificação da conduta do outro – mas elas não são eficazes como o perdão real. Quando de fato se perdoa, o estresse associado ao ressentimento diminui a ponto de suas consequências serem fisicamente notáveis – diversos estudos mostram redução da pressão arterial, da frequência cardíaca, da tensão muscular. Além do quê, quem perdoa experimenta maior relaxamento, mais bem estar e sensação de controle.
A decisão racional de perdoar é diferente do perdão emocional, contudo. Ao decidir perdoar, a pessoa reduz a hostilidade mas não necessariamente se livra das emoções negativas; o perdão emocional, aquele em que se abandona de fato o rancor, este sim está associado à redução do estresse e restauração das emoções positivas.
Claro que nem sempre é fácil. Mas mais do que isso, nem sempre desejamos perdoar – ficamos com aquela sensação de que, se o fizermos, estaremos saindo no prejuízo. Ok, você pode decidir guardar sua mágoa. Mas o faça consciente de que, sem a menor sombra de dúvida, quem sofre com isso é você.
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