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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Medo / Ana Beatriz Barbosa Silva

Quer saber de uma coisa? Todo mundo tem medo, uns têm medinhos, outros medões, mas no fundo tudo é medo puro e simples. Sentimos medo de manhã, às vezes à tarde e muito mais à noite, não necessariamente nessa ordem.

Medo de não ver o pôr do sol, de não poder ir à praia no domingo, de jogar a bola fora do gol, da areia quente, de que o chope esquente ou a onda se arrebente...

...Medo de trair e ser traído, de perder o grande amor, de amar e não ser amado, de dizer adeus, de partir, de mudar, de renovar, de dizer te amo!...

...Medo da morte: a sua, a do seu amigo, a do seu filho e a dos seus pais.

Medo de esquecer o que foi bom, de enlouquecer, de não viver, do prazer, de querer sempre mais e nunca mais parar de querer.

Medo do terror, dos terroristas, dos que manipulam os horrores humanos, dos que adoram o poder, de não poder com esse tipo de gente.

Medo de envelhecer, das rugas, dos cabelos brancos, da osteoporose, da menopausa, da calvície, de virar pó e da certeza de que a vida é uma só.

Medo de experimentar coisas novas, umas melhores e outras piores, mas o que vale é o movimento, somente o que está morto não se move.

Medo de olhar no espelho, do fracasso, da decadência, da não reação, do marasmo, da acomodação.

Medo de falar a verdade, de não ter verdades pelas quais lutar, de magoar, de brigar de perdoar...

...Medo da solidão, da rejeição, do telefone que não toca, da palavra não dita, do "mico" não pago, da alucinação da paixão, do beijo não roubado, da dor do amor não correspondido, das velas não apagadas, do grito não ecoado depois do sexo em perfeita comunhão.

Medo da diferença, da indiferença, da arrogância, do desprezo, da ignorância, do preconceito, do politicamente correto, do jeitinho brasileiro, da corrupção, da inflação, da humilhação, da falta de profissionalismo dos políticos, da inveja, da tristeza, das escolhas, do seu corpo, do passado, do presente e do futuro...

...Medo da responsabilidade, da liberdade, da igualdade, da fraternidade, do recomeço, de cantar, de dançar, de crenças, das encrencas, de dar e receber opinião, de ter voz e voto, de não ter voz e voto, de aturar gente de má índole, de má vontade e sem educação...

Medo de errar, de não ter o que dizer, de falar demais, de se calar diante da covardia, de engolir o choro da emoção, de não crer e não ter fé em Deus, em si e na vida...

...E, por fim, o medo de não ter coragem para enfrentar tudo isso, mesmo que isso não tenha fim...

(Retirado do livro "Mentes Ansiosas")













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