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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Uma Mulher / Maria de Fátima Jacinto

Sentimos culpa e medo de estarmos vivendo uma situação agressiva

O medo é um sentimento irracional, que nos leva a cometer todo tipo desatinos. Passamos a agir irracionalmente, sem saber o que nos leva a fazer... É nossa parte sem razão, só emoção, sentimentos conflitantes. É o medo que nos mantém grudadas em uma situação que não desejamos. Ficamos por que temos medo do julgamento da sociedade onde achamos que estamos inseridas, medo do julgamento de nossas famílias, medo de nosso agressor, medo que a justiça não seja feita... Sabemos por experiências amargas, o quanto é fácil manipular provas, e situações, contra nós... Sentimos culpa de estarmos vivendo uma situação agressiva, de termos colocados nossos filhos em situação de risco, risco físico, risco psicológico... Temos noção que a escolha do pai deles foi uma responsabilidade nossa e que falhamos essa escolha tão importante, escolha que era pra ser para toda uma vida de alegria, de filhos felizes e bem educados...

Ao invés disso agora temos que conviver com a realidade que demos a eles um pai ou um padrasto, violento, péssimo exemplo... Na grande maioria das vezes os agressores, são pessoas devassas, sem escrúpulos em mentir, em tripudiar, em manipular fatos... Tudo isso mantém nossos lábios colados, nossos pés grudados no chão e nossa cabeça baixa...
E assim cada vez mais vamos nos afundando no mar de lamas que criamos, e que hoje queremos uma mão salvadora para nos arrastar de lá...
Lembro-me que quando vivia nessa situação, eu não queria me separar, tinha medo de não dar conta de criar meus filhos sozinha (absurdo, era eu que mantinha a casa), mas tenho que reconhecer que agressão psicológica e emocional realmente funciona....E os agressores sabem disso.

Tudo o que eu queria, era que “alguém resolvesse o problema dentro da minha casa, uma mão salvadora... Alguma fada mágica, que chegasse para o monstro do meu marido e dissesse: Olha a Fátima é uma coitadinha que trabalha o dia todo, sustenta a casa os filhos, e ainda deixa sobrar algum para você gastar nas suas fará, essa mulher te ama, é uma excelente mãe, dona de casa, você tem que parar de humilhá-la, de espancá-la de fazê-la sofrer e reconhecer tamanha bondade...” Pode parecer cômico hoje, mas esse era o meu desejo, eu queria uma família feliz, de comercial de margarina, queria que meus filhos fossem criados perto do monstro do pai deles...

Acredito sinceramente por experiência própria, e por ouvir centenas se não milhares de mulheres em situações semelhantes, que esse é o desejo da grande maioria quando chega em uma delegacia para registrar um boletim de ocorrência...

Os nossos laços com o agressor é muito forte, a mão que nos agride, é a mesma que nos da prazer, que nos deu nossos filhos, nossos sonhos mais íntimos de constituir uma família está todo alicerçado ali no agressor, abandoná-lo significa assumir publicamente que falhamos como mulheres, como mães, e como pessoas ...
É a dor e o medo do julgamento pesa muito... E por isso muitas de nós escolhem perder suas vidas, escolhe calar, não julgo quem faz essa escolha, porque sei que ela é tão ou mais difícil e dolorosa do que a escolha que fiz... Sair realmente significa, rastejar, no mundo emocional, no começo vamos passar por um turbilhão e confusão tão grandes que não conseguimos saber como sobrevivemos... A grande diferença esta que as que escolhem sair, faz uma escolha pela vida, pelo amor aos filhos por mais ilógico que isso possa parecer no momento das agressões..Quando escolhemos deixar para traz uma vida de agressão estamos na realidade dizendo a vida que nós escolhemos ser responsáveis por nosso destino, que vamos aos poucos parar de encontrar culpados, e nos responsabilizarmos por nossas escolhas daí por diante...

O que de forma alguma significa que vamos ser mais felizes. Significa que seremos mais inteiras, mais integrais... Que andaremos de cabeça erguida, porque já guerreamos nossa guerra com a sociedade, com nossas famílias, e mesmo com a justiça;....
As muitas de nós de escolhem ficar, optaram por continuar, sendo boazinhas, é um dia seus filhos iram lembrar-se disso... Ou não.. Por como costuma dizer Gasparretto “Temos apenas duas escolhas: ser felizes ou sermos boazinhas”

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