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PEDOFILIA:
DIGA NÃO!
O perfil é do típico “gente boa”,
politicamente correto, inserido na
sociedade, com profissão e renda,
alguns casados e com filhos,
acima de qualquer suspeita. Eles
se aproximam sorrateiramente,
ganham a confiança da criança,
e em seguida arrancam sua
inocência e infância.
O PERIGO MORA AO LADO
Em março deste ano o Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada - IPEA divulgou o estudo Estupro no Brasil.
A pesquisa estima que pelo menos 527 mil pessoas
são estupradas por ano no Brasil. Deste total, 70% são
crianças e adolescentes mas apenas 10% dos casos
chegam ao conhecimento da polícia.
A impunidade é ainda mais frequente quando o crime é
cometido por um membro da família ou pessoa próxima
à criança. Por medo e por vergonha o crime é silenciado
e o criminoso fica impune para continuar a prática com
aquela e outras crianças.
De modo geral, 70% dos estupros são cometidos por
parentes, amigos e conhecidos da vítima. Em se tratando
de crianças, este número sobre para 87,5% o que aumenta
ainda mais a impunidade já que segundo a ministra
Maria do Rosário, da Secretaria dos Direitos Humanos
“As autoridades chegam a uma parcela pequena. A
violência é mantida sob um manto de segredo quando
se trata do abuso sexual intrafamiliar. É difícil romper
este segredo”.
Delair e Bya sabem bem como é guardar o aterrorizante
segredo. Elas não se conhecem, mas, carregam traumas
de infância muito parecidos. Foram abusadas e
aterrorizadas pelos seus próprios pais, guardaram por
anos as lembranças e dores das agressões. Quebraram
o silêncio ao contarem para os maridos, e apoiadas por
eles, resolveram ajudar outras vítimas e ex-vítimas.
DELAIR ZERMIANI
“Fui abusada desde bebê até os 14 anos pelo meu pai.
Ele usou várias estratégias, primeiro dizia que todos os
pais faziam isso com as filhas, mas que eu não podia
contar para ninguém porque caso contasse a magia
seria quebrada e eu não iria virar mulher. E eu, com toda
minha inocência aos 5 anos, acreditava.
Depois ele descobriu que eu tinha medo de anão então
ele dizia que anão é toda pessoa que tinha obedecidoao
pai só até aquela altura e que não deixava mais o
pai fazer, então Deus ficava bravo e não deixava mais
a pessoa crescer. Quando deixei de acreditar nisso, meu
irmãozinho nasceu então ele ameaçava matá-lo.
Aos doze anos ele usava o revólver para me obrigar.
Com cinco anos eu já havia sofrido todos os atos de
uma relação sexual. Minha alegria foi poder frequentar
a escola, era meu refúgio, onde podia ser criança, ou
ao menos fingir ser. Durante anos vivi assombrada, em
constante estado de alerta, tentando me proteger do meu
próprio pai, procurava nunca ficar sozinha, pois eu sabia
que se ele me encontrasse sozinha me pegaria.
Eu me sentia imunda, tinha vergonha e medo. Até que
um dia fui juntamente com o grupo de jovem visitar uma
menina de 13 anos que havia tido um bebê, o filho era do
pai dela. Então aos 14 anos criei coragem para enfrentar
meu pai, pois eu preferia morrer a ter aquele destino”.
Delair conseguiu superar e perdoar o pai, ela compara
a violência que sofreu a uma cicatriz: A lembrança
da ferida está ali, mas não doi mais, ela afirma que a
grande dificuldade está em perdoar o agressor para
então diminuir a dor. Por isso criou uma ONG EVAS –
Ex-Vítimas de Abuso Sexual, que se encontram para
conversar em grupo a fim de superar os traumas. Ela
ministra palestras em escolas, igrejas, universidades (...),
sobre a pedofilia e alerta adolescentes e adultos sobre o
perigo.
BYA ALBUQUERQUE
“Meu pseudônimo é Bya Albuquerque e sou fundadora da
comunidade “Filhas do Silêncio”. Faz 5 anos que fundei
a comunidade. Hoje tenho 47. Fui abusada pelo meu pai.
O abuso começou antes dos 2 anos e se prolongou até os
26, um pouco antes do meu casamento. Vim de família de
posses. Meu pai foi um intelectual com amigos influentes
e também foi um pedófilo e psicopata. Minha mãe
desconfiava, mas ficou quieta. Considerou-me como rival
dela. Passei por todas as fases do abuso: molestamento,
pedofilia, estupro. Com direito a uma gravidez e um
aborto. Muitos perguntam: por que tanto tempo? Eu fui
altamente, cruelmente, e brutalmente chantageada pelo
me pai. Pior que abuso físico, foi a violência emocional
que sofri por parte da minha mãe e do meu pai. Fiz isso
para proteger minha única irmã, 12 anos mais nova. Hoje
em dia ela me despreza e acha que sou mentirosa e louca.
Minha mãe foi tão agressiva verbalmente comigo, que
deixei de viver a adolescência e juventude. Ela me fez
sentir-me um lixo. Após o casamento, meu pai sentiuse
perdedor e começou a praticar assedio moral comigo
e meu marido. Quando a família direta dele soube do
abuso, considerou-me um segredo sujo. Uma família com
dinheiro e formação intelectual.
As consequências físicas e emocionais que sofro até hoje,
e principalmente nesse tempo, são: Doença de Cushing,
vaginismo, transtorno alimentar, depressão, insônia,
fobia social, baixa autoestima, ataques de ansiedade
entre outras.
Sempre fui forte, me formei, casei, tenho dois filhos, mas
não sou feliz. Acho que alguém que passa pelo abuso
sexual e violência psicológica dificilmente alcançará a
paz.
Minha comunidade tem como objetivo maior ajudar
mulheres e homens mais velhos, que vivenciaram o abuso
numa época que isso e o sexo eram tabu, a serem mais
fortes e conseguirem desabafar. Sou sozinha, mas aos
poucos tenho conseguido ajudar e com isso, ajudar a mim
mesma. Não tenho ilusão que o abuso sexual vai acabar.
É como falar no fim de uso das drogas, violência urbana,
corrupção. Mas acredito plenamente na solidariedade”.
Bya tem três blogs, no Diário de uma filha do Silêncio,
fala sobre seu dia a dia e das dificuldades decorrentes dos
traumas sofridos. No Filhas do Silêncio ela posta notícias,
poesias e letras de músicas e no Filhas do silêncio 2,
dezenas de pessoas postam seus depoimentos, e usam
o espaço para desabafar.
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