Já escrevi no blog de ciências sócias um histórico da questão social da pessoa com deficiência, como na historia eram vistos como endemoninhados, pecadores, malignos e depois como pessoas a margem do processo acumulativo.
Hoje, pessoas com deficiência, principalmente no Brasil, são instadas a fazerem parte do processo acumulativo, tanto como produtores e consumidores de riquezas. Mesmo que seu salario sejam mais baixo, numa desculpa esfarrapada de menos horas de trabalho, um flagrante contra as leis trabalhistas.
Mas, já algum tempo a questão violência domestica contra crianças e adolescentes e portadores de deficiência tem chamado minha atenção.
A primeira reflexão é a ausência quase que total de pesquisas sobre o assunto. Estive em um encontro de comunicação de pesquisa do Instituto Fernando Figueira, onde numa belíssima iniciativa um grupo de pesquisadores da área de saúde se debruçou sobre a temática.
As conclusões não são novidades: ausência completa de dados nos Conselhos Tutelares sobre a vitima de violência domestica ser ou não pessoa com deficiência, invisibilidade da pessoa com deficiência ante ao Conselheiro Tutelar, ou seja, se existe uma denuncia de maus-tratos ou qualquer outra violência, o Conselheiro Tutelar não se encontra conscientizado que de todas as crianças da casa, a criança ou adolescente com deficiência é a potencial vitima mais fragilizada.
Isso é um caso serio. Não apenas no Conselho Tutelar, como nos serviços de saúde e nas escolas, onde os profissionais estão absolutamente “cegos” para a questão, e despreparados para abordá-la.
Do pouco que se escreveu sobre o assunto os contornos não são muito diferentes dos casos com crianças/adolescentes não deficientes, isto é, as meninas são as maiores vitimas dos abusos, sendo que crianças/adolescentes com déficit cognitivo são dentre todas as deficiências os mais fragilizados, por não poderem muitas vezes expressar a situação que vivem.
A negligencia é um dos maus –tratos mais percebidos, principalmente no que se refere a higiene, neste caso, é necessário investigar se a negligencia ocorre devido ao desinteresse da família ou cuidador, ou se existe uma sobrecarga no cuidador, ou se, ainda, a família esta passando por dificuldades econômicas, sociais, sem uma rede de apoio.
No que se refere aos sinais de abuso não existem grandes diferenças de comportamento entre crianças/adolescentes com deficiência os que não são deficientes. Mudanças de humor, dificuldade de dormir, medo de algum local ou de determinada pessoa, regressão comportamental, irritação em órgãos genitais, isolamento, pouca ou nenhuma higiene, interesse repentino ou demasiado na sexualidade, marcas ou hematomas pelo corpo, são sinais que devem manter o profissional, cuidador ou pais em alerta (às vezes o abusador é o cuidador).
O profissional que cuida de crianças/adolescentes com deficiência devem sempre criar condições para que a mesma se sinta segura com seu atendimento, de tal forma que possa contar o que se passa com ela. Os pais devem estar atentos aos profissionais que trabalham com seus filhos (alguns até adultos) como cuidadores e outros, observando seu comportamento e também criando um ambiente de confiança para que possa ter confiança em se abrir.
Cada pai e profissional sabe a medida de compreensão de sua criança/adolescente, portanto, desde cedo ensine os cuidados com seu corpo e a contar os ocorridos do dia. Uma pergunta simples: como foi seu dia? Por vezes é o bastante para que conte sua rotina.
No mais, sempre atenção com ela e seu comportamento, qualquer suspeita deve-se entrar em contato com Conselho Tutelar de sua cidade. Lembrando sempre: a criança/adolescente é sempre vitima, mesmo que você ouça absurdos como eu ouvi de um individuo sobre uma adolescente com déficit cognitivo que era abusada por um vagabundo da cidade onde fui morar. “ela ia porque gostava, é uma safada.” Nem preciso dizer que estava lidando com um sujeito ignorante e imbecil...
Cândida Maria Ferreira da Silva – assistente social, graduanda em ciências sociais, especialista em Infância e Violência Domestica pela USP.
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